A GRANDE DESCOBERTA (conto natalino)
O dia ainda nem tinha clareado direito
e Zezinho já estava em pé.
_ Acorda vó! Vamos!
E Dona Ana, despertando assustada, se
deparou com o netinho, de pijama, junto à sua cama, todo
descabelado, tentando arrancar a meia.
_ Mas, querido, o que é isso! Ainda
são seis horas, é preciso esperar até as oito!
_ Mas vó, se agente chegar atrasado,
vamos ficar sem o Papai Noel. Só tem cinco, eu vi na propaganda!
Então, depois de rezar ao Anjo da
Guarda, ir ao banheiro, lavar o rosto, tomar o leite com chocolate,
escovar os dentes, trocar de roupa, colocar o tênis... Uff! Isso era
muita coisa a fazer, para quem estava tão ansioso! Enfim, depois de
tudo isso, lá foi Zezinho com sua avó, todo feliz, em direção ao
shopping, para a tão esperada compra dos enfeites de Natal.
Assim que chegaram, para aflição do
garoto, já havia diversas pessoas esperando a loja abrir. Pela porta
de vidro dava para ver lá dentro, tanta coisa bonita aos olhos:
Pisca-pisca, árvores de Natal de vários tamanhos, com bolas
brilhantes e coloridas, bengalas cheias de doces, sapatos e botas de
colocar na lareira, trenó com renas que piscavam seu nariz vermelho,
guirlandas musicais, e até pinheiros de verdade! Mas o que mais
chamou a atenção de Zezinho foi um boneco do Papai Noel com mais de um metro de altura. Com uma
mão, ele segurava um saco de presentes que pendia pelas costas, e
com a outra, segurava a barriga. Sua cabeça mexia pra frente e para
trás, como se estivesse rindo, e ele ainda falava: “Ho! Ho! Ho!
Merry Christmas, children's!”
_ É igual aquele, vó! O que eu quero
é igual aquele!
Assim que abriram as portas, houve
certo tumulto; eram adultos, crianças, jovens, todos querendo entrar
ao mesmo tempo! Zezinho foi correndo em direção ao Papai Noel, e
puxando um vendedor pelo braço, perguntou:
_ Quanto custa, moço?
Mas que decepção! O Papai Noel era
muito caro!
_ Oh! Zezinho – disse Dona Ana –
não tenho condição de comprar, custa todo o salário de um mês da
vovó!
Com os olhos cheios de lágrimas, meio
cabisbaixo, ele ainda tentou justificar:
_ É porque é importado!
_ Vamos procurar mais! Quem sabe
achamos outras coisas interessantes? – consolou a avó. E apontando
uma prateleira, disse:
– Veja! Tem estes enfeites para a
árvore!
_ É... Pode ser. – falou Zezinho,
pegando um Papai Noel com 'gorrinho de duende'.
E foram colocando na cestinha,
pequenos e baratos enfeites de dependurar na árvore: bolinhas
coloridas, bengalas, estrelas, renas de nariz vermelho...
Zezinho tinha um bom coração e
gostava muito da sua avó, mas, mesmo assim, tinha ficado bastante
triste por não poder levar o boneco do Papai Noel pra casa; afinal,
ele tinha escutado seus coleguinhas dizerem: “Que graça tem o
Natal sem o Papai Noel? É o mais importante; pois é ele quem traz
todos os brinquedos!”
Então, quando já estavam saindo da
loja, Zezinho avistou um negócio estranho, entre umas caixas, num
cantinho da loja, junto à porta que dava para o depósito. Parecia
uma uma gruta ou cabana de madeira.
_ Vó, o que é aquilo?
Um vendedor que estava perto foi logo
brigando com o rapaz do depósito:
_ Porque deixaram isso aí?! – E
olhando para eles, continuou:
_ Desculpe a bagunça... É um antigo
presépio, mas tá quebrado... Aliás, nem se vende mais este tipo de
coisa!
_ Presépio! O que é isso, vovó?
Então, enquanto voltavam para casa,
Dona Ana ia explicando. O menino nem piscava, com os olhos
arregalados, ouvindo a narração da avó. Chegando em casa, Dona
Ana, sentou no sofá, colocou as pernas cansadas em um banquinho, e
continuou:
_ Quando eu era criança, em vez de ir à
loja comprar enfeites, saíamos para o campo, em busca de pedrinhas,
areia e palha, para montar o nosso presépio. Todos os anos,
montávamos um diferente. Todas as casas tinham seu presépio, mas o
nosso era o mais bonito, pois como seu bisavô era carpinteiro, ele
mesmo esculpia na madeira os personagens. Tinha os anjos, os
pastores, as ovelhinhas, e até uma estrela guia! Mas o que eu mais
gostava era um São José puxando o burrinho, com uma Nossa Senhora
grávida, sentada nele. Estes eram para o Tempo do Advento.
_ Advento, o que é isso?
_ É o tempo em que esperamos a
chegada do Natal! Todos os domingos, ao voltar da Missa, mamãe
acendia uma vela na Coroa do Advento.
_ Coroa do Advento! – exclamou o
garoto sem entender.
_ É um símbolo do Advento, querido! É um
círculo feito com cipó enrolado, coberto com ramos de pinheiro;
dentro dele colocamos quatro velas, que representam as quatro semanas
do Advento. Em cada domingo do Advento acendíamos uma vela.
_ Ah! É igual à guirlanda que tem na
porta de casa?
_ Sim! – sorriu a avó – Mas a
nossa era colocada na mesa, dentro de um prato de barro, com as
quatro velas. Gostávamos muito dela, porque a cada domingo,
quando mamãe acendia uma vela, significava que o Natal estava mais
perto!...
_ Que legal!
_ Mas agora, pega um copo de água
para a vovó, que já está cansada de tanto falar.
Depois de buscar o copo de água,
Zezinho sentou-se a seus pés, dizendo:
_ Conta mais! Conta mais!
E Dona Ana, com os brilhantes olhos
verdes, olhando ao longe, ia relembrando:
_ Então, depois da vela acesa, meus
irmãos e eu corríamos até o presépio, para colocar o São José e
a Nossa Senhora grávida mais perto da gruta. E a cada domingo
colocávamos mais perto! Depois, na véspera do Natal, tirávamos
estas imagens e colocávamos outras: o São José e a Nossa Senhora
ajoelhados.
_ Que seu pai também tinha feito de
madeira?
_ Sim! E o mais legal era na manhã do
Natal. Pulávamos da cama e íamos correndo até a sala, para ver se
o Menino Jesus já estava na manjedoura; porque o papai só o
colocava lá depois que agente tinha ido dormir. Agente já sabia,
mas, mesmo assim, era muito emocionante encontrar Ele lá!
_ Menino Jesus na manjedoura! Como assim?
_ Uai, meu querido, porque quando o
Menino Jesus nasceu, no dia do Natal, Nossa Senhora o colocou na
manjedoura, porque eles não tinham conseguido hospedagem em nenhum
outro lugar! Manjedoura era o lugar que os bois comiam.
_ Nossa! - disse o garoto espantado. E a avó riu passando a mão nos cabelos de Zezinho.
_ Mas, 'peraí'! O Menino Jesus nasceu no dia
do Natal?! – questionou Zezinho surpreso.
_ Claro, meu amor! O Natal é o
nascimento do Menino Jesus! Ele nasceu lá na gruta, porque ninguém
quis dar hospedagem para José e Maria na cidade de Belém!
_ Que triste!
_ Mas os Anjos vieram com os Pastores
para adorar o Menino Jesus. Assim, nós também, como os pastores
devemos adorar o Menino Jesus, pois Ele nasceu para nos salvar!
_ Vovó, eu pensava que o Natal é a festa do Papai Noel! – disse o garoto surpreso e envergonhado.
_ De jeito nenhum! O Natal é o
aniversário do Menino Jesus! E tem mais, depois de alguns dias, também vieram os
sábios Reis para adorar o Menino Jesus. Eles vieram de países bem distantes, trazendo os presentes de ouro, incenso e mirra. É por isso que as pessoas trocam presentes no dia do Natal, para comemorar esta data tão importante.
_ Mas 'peraí', vovó, se é o
aniversário do Menino Jesus, ele quem deveria ganhar os presentes!
A avó sorriu e comentou:
_ As pessoas trocam presentes entre si
para demonstrar a alegria deste dia, e cada presente, deveria
representar Jesus. Que a pessoa está presenteando a outra com o
melhor presente: Jesus!
_ Mas e Jesus, Ele não ganha
presente?
_ Creio que o melhor presente que ele
quer é o nosso coração! Por isso devemos deixar o nosso coração
bem limpo, sem nada de ruim nele, então, o Menino Jesus pode vir
nascer em nosso coração. Este é o Natal mais bonito!
Zezinho ficou um tempo olhando para
sua avó e exclamou:
_ Mas, vó! As pessoas estão sendo
enganadas! – exclamou o menino, levantando do chão. E com
determinação, foi até a porta e disse:
– Meus colegas precisam saber disso!
O Natal não é do Papai Noel, com renas e duendes no trenó. Isso
nem existe! O Natal é do Menino Jesus!
E correndo pela rua, Zezinho voltou à
loja, pediu ao vendedor o presépio velho e, com a ajuda da avó,
colou as peças quebradas. Depois, levou para a escola e mostrou aos
coleguinhas, repetindo para eles a história que sua vó lhe tinha
contado: a verdadeira história do Natal.
E desde aquele dia, quando chegava o
Tempo do Advento, as crianças não se interessavam tanto mais em ir
às lojas, comprar enfeites brilhantes e caros, mas queriam ir ao
campo, pegar pedrinhas, areia e palhas, para montar em casa o seu
próprio Presépio!
Parabens Rachel! Que linda estória.
ResponderExcluirViva Jesus! Viva a família de Nazaré!