1 de maio de 2014

Até quando, Senhor?

 Quantas vezes diante de fatos dolorosos em nossa vida, ou mesmo quando nos deparamos com a ação do mal no mundo, lançamos a Deus um apelo em busca de respostas que nos satisfaçam, como:



"Onde está Deus que não me ajuda?!"

"Por que Deus não impede o mal?!"

Dias atrás conheci um senhor muito simpático que, sentado no banco de uma rodoviária, desenhava - e muito bem - o Imaculado Coração de Maria. Era um grafiteiro autodidata que havia separado de sua esposa e, morando na rua, ganhava o pão de cada dia com o seu talento.

Conversando com ele, percebi que era uma pessoa que trazia dentro de si uma grande sede de Deus, da Verdade e do Bem, mas ao mesmo tempo, tinha o coração marcado pelo sofrimento, e ferido pela mágoa, angústia e indignação.

Ele fez estas mesmas perguntas a respeito do (aparente) “silêncio de Deus” em face de tantos fatos injustos que sofremos ou presenciamos.

Tentei explicar a ele que Deus criou tudo bom, mas o próprio homem, afastando-se de Deus e de Sua lei, caiu nos laços do demônio e, utilizando mal a sua liberdade, acabou causando danos a si e ao próximo. 

Mas... logo meu ônibus chegou e tive que partir. Deixei-o, pesarosa, pois ele ainda não havia se convencido que Deus não abandonou o ser humano... pois amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Único, Jesus Cristo, como Redentor (cf. Jo 3,16).

Fiquei a pensar em tantas pessoas que perdem a fé porque se deixam levar por tais questionamentos. 

Então, encontrei em um livro uma passagem que responde a esse paradoxo do mal.

Nele dizia que Deus não impede o mal e a ação de satanás porque,


“tendo criado os homens e os anjos livres, deixa que ajam conforme a sua natureza inteligente e livre.
No fim, Ele fará as contas e dará a cada um o que merece... A parábola do joio e do trigo é bastante clara a esse respeito: quando os servos pedem que se retire o joio, o patrão se recusa a fazê-lo e diz que será preciso esperar o tempo da colheita.
Deus não renega as suas criaturas, mesmo quando elas se comportam mal. Se impedisse a sua ação, a criatura seria julgada antes que tivesse a possibilidade de expressar-se integralmente.
Somos seres finitos, nossos dias na terra estão contados, e por isso não gostamos dessa paciência de Deus.
Temos pressa em ver o bem premiado e o mal punido. Deus espera, permitindo que o homem tenha tempo de se converter, servindo-se muitas vezes também do demônio para que o homem possa provar que é fiel a seu Senhor”
(Leite, Silvana C. - Para falar de Anjos; Loyola).

Na verdade podemos perceber que cada coração humano que grita: “Até quando, Senhor?!”, ainda não compreendeu o Mistério da Economia da Salvação. 

Isso não significa, é claro, que devemos cruzar os braços e deixar que o sofrimento, a doença, o desemprego, a injustiça, etc. progridam.

De modo algum! Devemos agir, sim, e buscar sempre o que é justo e direito, o bem, a paz, a dignidade, a verdade e a ordem; mas, jamais devemos nos revoltar por acontecimentos que “temporalmente” permanecem sem respostas.

Com certeza você conhece ou já ouviu falar de pessoas que, diante de um doloroso quadro de uma doença incurável, por exemplo, dão um belíssimo testemunho de fé e amor!

E um dos melhores modelos que temos é a Santíssima Virgem Maria que, junto à Cruz, vendo seu filho sendo torturado e morto injustamente, permaneceu de pé, revelando ao mundo que nosso sofrimento, unido ao de Cristo, torna-se corredentor (conf. Jo 19, 25 e Col 1, 24).

Interessante que aquele grafiteiro da rodoviária desenhava o Imaculado Coração de Maria. Lembrei-me de que em Fátima, Nossa Senhora afirmou: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”

Maria anunciava ali a vitória de todos que, crendo no amor de Deus, não se esmorecem diante das tribulações ou injustiças causadas direta ou indiretamente pelo pecado, pelo mal, mas com firme esperança no amor de Deus sabem que “todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (1Jo 5,4).

Que possamos também ser portadores desta fé, desta esperança, n'Aquele que, por nosso amor, humildemente baixou até este vale de lágrimas e nos deu uma Mãe que intercede junto a Ele por nós. 

Salvou-nos por Sua morte, e ressuscitou para nos dar a Vida... preparou-nos um lugar (conf. Jo 14, 2) onde “enxugará toda lágrima de nossos olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor” (conf. Ap 21,4). Deus é Bom!
Maio de 2012

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