3 de dezembro de 2017

O Advento vivido por Maria


Como o cristão deve viver o Tempo do Advento? Que exemplo devemos tomar de Nossa Senhora? Bem, a palavra Advento (advenire - no latim) indica que "algo, ou alguém, está para chegar".

Mas no Tempo do Advento não vivemos apenas as 4 semanas de espera da chegada do Menino Jesus no Natal, mas também refletimos sobre a Sua Parusia, sua volta no 'Fim dos Tempos'. Além disso, devemos meditar no 'fim da nossa vida', que pode ser daqui há muitos anos, mas também pode ser amanhã, ou hoje mesmo...


Existem ainda outros Adventos a viver e outras Parusias a nos preparar... e estes são a cada dia, como por exemplo: a preparação que devemos fazer para receber Jesus que vai chegar até nós na Eucaristia diária... ou a cada momento em que Ele Se apresentar à nós, com Sua Cruz, ou de uma oportunidade de conversão e santificação, de uma Graça, etc.

Devemos, pois, estar sempre a postos, vigilantes, aguardando o Senhor, como o vigia que aguarda ansioso a chegada da Aurora (cf. Sal 129,6).

Mas existe uma atitude muito importante que é necessária cultivar durante este Tempo de Advento, além da oração, claro!, e que infelizmente tem se perdido: o silêncio, o recolhimento, e a sobriedade nos alimentos! Sim, porque - abrindo um pequeno parêntesis - muitos cristãos e católicos, levados pela loucura do comércio e do consumismo, esquecem que estão no Advento, tempo de preparação, e já se entregam às comilanças de panetones e doces; seria muito bom se nos controlássemos um pouco mais, e deixássemos estas coisas para o Tempo do Natal... mas isso é algo que tratarei em outra postagem do Blog.

Para a reflexão do silêncio e recolhimento, vamos pensar em Nossa Senhora. A Santíssima Virgem foi a primeira a viver o Advento. E esse tempo de espera, até o Menino Jesus nascer, não durou 4 semanas, como são as 4 semanas do Advento para nós, mas durou os 9 meses de sua gravidez.

Depois da Anunciação, Maria viveu um tempo de profundo silêncio interior e exterior, que não foi separado da 'santa ansiedade' da espera.

Sabemos que a Santíssima Virgem ficou perturbada com as palavras do Arcanjo Gabriel: "Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação" (Lc 1,29), e quis entender melhor o que deveria fazer para corresponder àquele convite de Deus: "Como se fará isso, pois não conheço homem?" (Lc 1,34). Depois da explicação de São Gabriel, Nossa Senhora apenas disse o seu 'sim': "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.", e não questionou nada. Ela aceitou e confiou.

É claro que Nossa Senhora compreendeu todas as consequências humanas, da lei judaica, que poderiam cair sobre ela, de se achar grávida antes da consumação do matrimônio com São José... ainda mais que, para os judeus, o noivado já representava um compromisso definitivo; assim, além de que seria considerada uma mulher prostituída, seria considerada adúltera, o que ocasionaria na pena de morte por apedrejamento.

Mas ela não pensou em levantar a voz para se defender ou se justificar, não contou a ninguém a Concepção Milagrosa, nem a São José... Ela teve fé o suficiente para viver tudo isso, sem se desesperar ou duvidar em um só momento na Providência de Deus... Entretanto, isso não significa que ela não sofreu toda a angústia da espera, no silêncio do seu coração!

Logo depois da Concepção milagrosa, a Escritura diz que Maria levantou-se e foi às pressas às montanhas, para socorrer Isabel, sua prima idosa que já estava no 6º mês de gestação. Quando ela chegou lá, Isabel teve a grande graça de ficar cheia do Espírito Santo, apenas com a saudação de Maria: "Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo..." (leia: Lc 1,41-45).

Assim, o primeiro ato da Santíssima Virgem no Advento, foi levar o Amor de Jesus a quem precisava, ou seja, o Espírito Santo - que é o Amor do Pai e do Filho. Foi necessária apenas uma saudação de Maria para que Isabel ficasse cheia do Espírito Santo, porque dos lábios de Maria só saiam palavras cheias de Deus... E como são as palavras que saem da nossa boca? São Paulo nos diz que da nossa boca devem sair somente palavras que vão edificar os outros (cf. Ef 4,29).

Depois das palavras de Santa Isabel, a Santíssima Virgem entoou o Magnificat, que foi uma oração dirigida toda para Deus. Assim, ela não se apropriou do elogio de sua prima, mas mergulhou ainda mais profundamente no diálogo com Deus, em uma exultante oração de Ação de Graças.

Com certeza, neste período da sua gravidez, deste Advento até o Nascimento do Menino, a Santíssima Virgem falou o mínimo possível com as pessoas, apenas o essencial... pois como seria possível que ela se distraísse com outras coisas, quando Jesus estava dentro dela?

Assim, cada vez que formos para a Santa Missa, preparemo-nos para a Celebração como num pequeno advento, pois daí uns instantes iremos receber, dentro de nós, Aquele mesmo que a Virgem Maria recebeu em seu seio no momento da Anunciação.

E quando O recebermos em comunhão, que possamos fazer um digno tempo de Ação de Graças, não só após a Santa Comunhão, mas também após a Santa Missa, permanecendo em silêncio e oração. Ocupados e entretidos com Jesus, que fica no nosso Coração com toda a Sua potência e presença real de corpo, alma e divindade, assim como ficou no ventre de Maria.

Estes dias, participei de uma formação com um sacerdote que dizia que: na hora de recebermos a Eucaristia, o sacerdote é como o Anjo Gabriel, e nós somos como Nossa Senhora, que vamos receber dentro de nós, Jesus.

Assim, na Santa Comunhão, devemos também mergulhar neste silêncio profundo de Maria no momento da Anunciação, e rezar juntamente com ela: "Ecce ancilla domini fiat mihi secundum verbum tuum." (cf. Lc 1,38).

Vários santos foram unânimes em afirmar que Jesus permanece dentro de nós, verdadeiramente, ao menos uns 15 minutos, ou enquanto durar a espécie da Hóstia consagrada em nosso organismo. Como é triste ver tantos que logo após receber Jesus, apenas o engolem, e já começam a conversar no banco da igreja, a olhar para os lados, ou pior ainda, olhar no celular!!! Quando deveriam estar recolhidos, de olhos fechados, de joelhos, se a saúde o permitir... conversando com Aquele que é o nosso único Salvador, o nosso Deus, o nosso Tudo. E um dos requisitos mais importantes para este momento é de novo o silêncio e o recolhimento.
Um outro aspecto interessante para refletir e entender a necessidade do silêncio neste Tempo Litúrgico é que, se estamos aguardando a chegado do Menino Deus, que é o Verbo Encarnado (ou seja, a Palavra Eterna do Pai) assim, o Advento deve ser tempo de silêncio também porque o Verbo, a Palavra, ainda não nasceu! E por isso, toda a criação deve permanecer em silêncio, até que o Verbo Se faça Carne: "Toda criatura esteja em silêncio diante do Senhor: ei-Lo que surge de Sua santa morada" (Zac 2,17).

Vamos enumerar brevemente agora todas as vezes que aparece, nos Evangelhos, alguma palavra da Santíssima Virgem:

1) Na Anunciação, Maria dialoga com o Anjo Gabriel. O fato de que São Lucas narra: "Entrando, o Anjo disse...", e depois: "O Anjo afastou-se dela", significa que a Santíssima Virgem estava sempre acostumada com a presença dos Santos Anjo, que naturalmente 'entravam e saiam'; até porque ela não se assustou com a presença do Anjo, mas com o conteúdo da saudação. Mas, um detalhe interessante: a palavra "afastar-se" sugere que o Anjo foi afastando-se respeitosamente, ou seja, sem virar as costas para Nossa Senhora. Deixando Nossa Senhora ali com Deus, naquele momento único e íntimo... na solidão e no silêncio.

2) Depois, a Santíssima Virgem levou Jesus (em seu ventre), até Santa Isabel e São João Batista. Lá, ela abriu seus lábios não para gloriar-se de si mesma, mas para ser portadora do Espírito Santo e para glorificar a Deus. Quantas vezes nós, ao contrário, abrimos nossa boca para gloriar-nos a nós mesmos, contanto alguma vantagem, ou para nos justificar diante de uma acusação, humilhação ou mal entendido? (Cf. Tg 3,5-9.10b). Mas "bom é esperar em silêncio o socorro do Senhor." (Lam 3,26).

3) Em Lucas 2,48, vemos novamente as palavras de Maria quando Jesus tinha 12 anos: "Quando eles O viram, ficaram admirados. E Sua Mãe disse-Lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que Teu pai e eu andávamos à Tua procura, cheios de aflição." Esse episódio demostra claramente o que consideramos acima, que, mesmo com a grande fé da qual Nossa Senhora era portadora - de saber a Providência de Deus tudo resolve - ela não ficou livre de passar por sofrimentos e aflições, e que não foi fácil para ela essa espera... mas ela a viveu tudo com fé e amor.

Mas também podemos refletir o seguinte: quando a Santíssima Virgem ficou grávida, e ainda não sabia qual seria a reação de São José, e como tudo ocorreria, o Evangelista não fala nada se ela ficou aflita... mas quando ela perde Jesus, aí sim, ele narra! O que revela que este momento da perda de Jesus talvez tenha sido bem mais difícil para ela do que foi quando ficou grávida, sob o risco de ser apedrejada; e por quê? Simples! Porque ela tinha perdido Jesus!!!

Na Anunciação, o Anjo estava presente, e desde que ela aceitou o convite de Deus, Jesus entrou em seu seio, e ela ficou unida a Ele!... Mas neste episódio, ela perde Jesus! Isto nos ensina que nosso único  temor e o único motivo de nossa aflição deve ser perder Jesus! Quando estamos com Jesus, temos muito mais força para passar por qualquer sofrimento e angústia. Assim, não devemos ter medo de sofrimentos, mas do pecado!

Depois da resposta de Jesus, Maria mergulhou novamente no silêncio, meditando tudo em seu coração: "Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração." (Lc 2,51). 

4) Enquanto, no Templo, aos 12 anos de Jesus, Maria parece querer reter Jesus quanto ao início de Sua missão, nas Bodas de Caná já ocorre o contrário, Ela vê que é chegada a hora de Jesus Se revelar. A resposta de Jesus até parece demostrar que Ele ainda quer esperar um pouco mais, mas Ele fez isso propositalmente, porque queria provocar nela uma súplica... esta súplica que fez dela a nossa intercessora junto d'Ele. Ele mesmo quis que seu primeiro milagre, e o primeiro sinal de sua messianidade, brotasse daqueles lábios puros e silenciosos, que só se abriam em momentos oportunos, com toda a sabedoria, e assim arrebatavam o Coração de Deus: "Quem ama a pureza do coração, pela graça dos seus lábios, é amigo do Rei". (Prov 22,11)

Assim, com toda a sabedoria, ela responde aos servos que obedeça o que Jesus lhes mandar fazer. Quando Maria diz aos servos: "Fazei o que Ele vos disser!" Ela de certo modo, deixou em aberto, Ela não sabia se Jesus faria ou não o milagre, mas confiou... intercedeu, aconselhou e silenciou.

E Jesus não resistindo ao pedido de Sua Mãe, inicia ali os sinais que O revelaria diante dos discípulos como o Messias: "Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele." (Jo 2,11).

De fato, estas foram as últimas palavras da Santíssima Virgem registradas na Sagrada Escritura, assim constituem o seu Testamento espiritual.

É claro que a Santíssima Virgem falou muitas outras coisas durante a sua vida, e não somente o que está registrado nos Evangelhos - isso porque os Evangelistas não pretendiam escrever uma Biografia de Jesus, de sua família e dos Apóstolos - embora os Evangelhos contenham muitos dados biográficos -, mas eles queriam essencialmente anunciar a Boa Nova, a mensagem da Salvação... E as palavras colocadas ali foram cuidadosamente escolhidas, ou melhor, inspiradas pelo Espírito Santo.

Depois que Jesus morreu, Maria ficou com São João, e claro, acompanhou como Mãe sábia e silenciosa, a Igreja nascente. Foi uma Mãe sempre presente, solícita, cuidadosa e amorosa; assim, como é até hoje. Ela nunca nos abandonou! Mesmo depois de sua Assunção ao Céu, quantas vezes ela já 'desceu' à terra, para nos confortar e educar, a nós, seus filhos, através de suas inúmeras Aparições!



Cada Tempo da Igreja tem sua importância, mas a Quaresma e o Advento, como Tempos de Preparação, têm esse aspecto principal, de fazer com que levantemos nossos olhos da agitação e do barulho das coisas temporais, e os elevemos para o Céu, para o que vamos viver não durante 60, 80 ou 100 anos, mas eternamente.

Na verdade, essa deveria ser a ocupação constante do nosso pensamento: de que os segundos estão passando, e a cada momento, a cada dia, a cada Advento... Esse deveria ser o anseio constante de nossas almas: estamos mais perto da vida eterna, do nosso encontro com Deus. Que alegria! Porque as pessoas tem medo deste dia, do dia do encontro com Aquele que nos criou, que nos ama, que nos libertou do pecado, e que nos quer fazer felizes eternamente? Na vida eterna "o Senhor Deus enxugará todas as lágrimas, e não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque todas estas coisas passarão" (cf. Apoc 21,4), lá veremos maravilhas, "como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam". (I Cor 2,9).

E é no silêncio de cada Comunhão Eucarística,
de cada Ação de Graças bem feita,
de cada Passio Domini,
de cada momento de Adoração,
de cada momento de leitura e meditação da Bíblia,
de cada oração pessoal,
de cada olhar para uma imagem de Maria
- que nos traz Jesus e nos aponta Céu -,
que temos a oportunidade de nos desapegar do que nos prende à terra, para deixar que Deus seja tudo em nós (cf. I Cor 15,28), e nos encher com o que Ele quer; porque nós devemos desejar ser santos, santos de altares! É claro que isso não significa ter pensamentos de vaidade, mas para sermos como nosso Pai Celeste quer que sejamos (cf. Mt 5,48; I Pd 1,16). Sim! Deus deseja isto de todos os seus filhos, não só de alguns! A santidade é para todos, é para isto que nascemos, para sermos santos: Ele nos escolheu "antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos". (Ef 1,4)

A santidade poderia se resumir nisto: alcançarmos ainda nesta terra, aquela meta, aquele estado de vida e alma, que Deus sonhou para nós quando nos criou.

Que a santidade seja nosso maior objetivo nesta terra, como dizia São Domingos Sávio: "Se não for santo, não terei feito nada de importante nesta terra!... Antes morrer, do que pecar!"

Que Maria Santíssima, aquela que no silêncio e no escondimento de sua vida, soube escutar a vontade de Deus, meditá-la em seu coração e vivê-la, nos acompanhe neste caminho do Advento... de esperar e receber Jesus... na comunhão eucarística, na vida, no Natal, na vida eterna. Amen.

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