1 de fevereiro de 2016

Vestir os nus

Obras de Misericórdia são aquelas com que se socorrem o nosso próximo nas suas necessidades corporais ou espirituais. São sete corporais e sete espirituais, conforme as necessidades dos que se socorrem. Neste Ano da Misericórdia, iremos a cada mês trazer aos amigos e leitores explicações sobre cada uma delas, a fim de aprofundarmos juntos neste assunto, e não perdermos as oportunidades de graças que a Igreja nos oferece durante este tempo, de modo especial agora na Quaresma.

Neste mês vamos refletir sobre: ‘Vestir os nus’. Trata-se de uma obra corporal, mas nela há muito de espiritual. No Evangelho de Lucas, vemos a exortação de São João Batista: “Quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem!” (Lc 3, 11a), e São Tiago nos questiona: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma” (Tg 2, 15-17). Costuma-se dizer: “A roupa que está no seu guarda-roupa e você não usa há algum tempo, já não te pertence, é dos pobres”. Isso é algo bem prático. Mas vemos ainda um outro aspecto:

«Não ter roupa, ou estar quase nu, cobertos de farrapos, é uma condição que tem importantes conotações psicológicas e espirituais. “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá” (Jó 1, 21). A vida humana desenrola-se entre duas nudezes: a do início da vida, e a do fim da vida. Como é óbvio, trata-se de um processo físico que tem a ver com a nudez do recém-nascido, mas também tem um valor psicológico e simbólico: no fim da vida abandonamos aquilo a que nos tínhamos ligado, deixamos aquilo a que nos tínhamos habituado. O ato de vestir a nudez do início e do fim da vida coloca toda a existência humana sob o signo dos cuidados necessários ao nosso 'ser-corpo'. A nudez é abandono ao estado natural, ao passo que o vestir é obra de cultura e distingue o humano dos animais. A roupa traduz o sentido de pudor, que talvez seja o mais antigo gesto que nos distingue dos animais, e que não se limita ao âmbito sexual, mas que abarca a totalidade do ser humano.» ¹

A bíblia nos diz que «depois que pecaram, Adão e Eva tentaram se cobrir com as folhas da figueira, mas Deus não achou suficiente, assim Ele “fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu” (Gên. 3,21). Este texto sagrado nos mostra que Deus cobriu os corpos que se despiram, através do pecado, do vestuário da graça. Por esta razão, todos temos de nos vestir decentemente, modestamente e com dignidade. Aqueles que aparecem vestidos indecentemente são um incentivo ao pecado, e por isso são responsáveis não só por seus próprios pecados, mas também por aqueles que outros podem cometer por causa deles. Vemos que o mundo, infelizmente, segue a moda indecente como se fosse lei – é um truque do demônio, uma armadilha inteligente, com a qual o diabo capturas almas.

Além de ser uma defesa contra o pecado, o vestuário modesto com o qual devemos nos cobrir é uma marca distintiva que nos diferencia no fluxo de imoralidade, e nos capacita a ser, para o mundo, verdadeiras testemunhas de Cristo.»²

Percebemos assim, dois aspectos importantes, ligados entre si. O aspecto social e o ontológico. Quer dizer que, mesmo sendo algo objetivo e prático, que visa o bem físico do próximo (dar roupa aos pobres que precisam), envolve também a integridade da pessoa, pois é necessário importar-se com a dignidade daquele pobre que, para além do frio, tem o direito de cobrir o seu corpo, que é templo do Espírito Santo.

E em relação a nós mesmos, devemos buscar nos vestir modesta e decentemente, porque também somos templos do Espírito, e não devemos ser causa de pecado de quem nos vê. Nestes dias de Carnaval, quantos pecados horríveis são cometidos por causa da nudez dos corpos. Jesus revelou a Santa de Ângela de Foligno o quanto Ele sofreu pelos pecados impuros e os cometidos contra a falta de modéstia no vestir. Há séculos, o demônio vem tentando mudar a mentalidade da sociedade, para que possa aceitar como bom, aquilo que é pecado, acostumando as pessoas progressiva e quase que imperceptivelmente com as roupas curtas, decotadas, transparentes e justas ao corpo. E ele faz isso, principalmente através daquilo que mais influencia as pessoas, e que para elas se torna referência: a moda, as pessoas importantes, ou que estão em evidência no momento (atores de novelas, de programas de TV, de filmes, os cantores, as revistas).

A beata Jacinta, pastorinha de Fátima, quando estava no hospital, já prestes a morrer, recebeu ainda muitas visitas de Nossa Senhora. Em uma delas, a Mãe do Céu revelou-lhe: “Virão modas que ofenderão muito Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem seguir essas modas. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo!”. Nossa Senhora previu isto, as modas indecentes que o demônio induziria às pessoas a acharem “normal”; e hoje, vemos isto até dentro das igrejas, mas na verdade não é normal, e é pecado!

Por isso o cristão autêntico, busca fugir destas armadilhas do demônio e do mundo, ajudando com caridade seus irmãos mais necessitados, e também cuidando de si mesmo, para não ser ocasião de queda para ninguém. Lembrando que Jesus disse: “Aquele que olhar para uma mulher e desejar possuí-la, já cometeu adultério no seu coração.” (Mt 5, 28). Portanto, que as mulheres tomem muito cuidado com as suas roupas, para não serem causa de pecado para os homens, pois este pecado também pesará sobre elas.

Enfim, que possamos, a partir desta Quaresma, colocarmos em prática duas coisas bem simples e necessárias: cobrir a nudez do pobre, com a esmola, e a nossa, com a modéstia!

¹ - www.laboratoriodafe.net
² - Ir. Lúcia de Fátima: www.modaemodestia.com.br

Publicado no Informativo da Comunidade Sol de Deus – fev 2016