31 de dezembro de 2017

A Sagrada Família e o Filho único

Não se trata aqui do polêmico assunto, sempre levantado por parte dos protestantes, se Maria permaneceu virgem ou não depois do nascimento de JESUS, até porque esta é uma dúvida deles, e não nossa, católicos; nós temos certeza, pela Sagrada Tradição, e até pela Sagrada Escritura, garantida pelo Sagrado Magistério, da Virgindade perpétua de Maria - que inclusive é um Dogma de Fé.

Mas aqui abordaremos o seguinte aspecto: Se desde a religião judaica, e também a própria moral católica incentiva que a família tenha muitos filhos, porque então, DEUS quis que a Sagrada Família tivesse apenas um filho? O fato de que Maria teve apenas um filho biológico, vai muito mais além do aspecto físico e humano. 

- Em primeiro lugar, sabemos que JESUS poderia ter "aparecido" de qualquer maneira, mesmo já adulto, sobre a Terra... mas DEUS PAI quis que ELE nascesse em uma família, para assim mostrar o valor da família! E assim como JESUS foi 'o centro e o tudo' de Maria e José, assim, Ele deve ser também o centro (o mais importante) de cada pessoa, de cada família, seja esta do tamanho que for.

Pois, apesar de que é da vontade de DEUS que a família seja numerosa (Cf. Gen 1,28; Gen 9,1.7; Sal 126,3 e Jer 29,6), não significa que um casal que só conseguiu ter um filho, ou mesmo que não conseguiu ter filhos, não seja família. Muitos casais desejariam ter muitos filhos, mas por algum motivo: saúde, acidente, etc., não puderam ter mais que um, ou nem mesmo puderam ter um; e nem por isso deixam de ser família no Coração de DEUS. Estas pessoas são chamadas a se doarem como "pais" de outra maneira, seja 'adotando' filhos diretamente, ou engajando em projetos humanitários e caritativos em suas Comunidades Paroquiais, em seu bairro, etc., e tendo muitos 'filhos espirituais'.

- Outro aspecto importante a se considerar é que quando o Anjo São Gabriel apresentou-se a Maria com a proposta de DEUS, ela já era noiva comprometida de São José, e mesmo assim ela perguntou (não duvidando, mas querendo entender): "Como se fará isso, se não conheço homem?" (Lc 1,34). Ora, se ela pretendesse viver uma vida matrimonial comum como todas as mulheres judias, poderia ter deduzido que isto se daria obviamente após a consumação normal do matrimônio! Mas sua pergunta nos revela que ela pretendia manter-se virgem, vivendo uma espécie de Consagração para DEUS - e isto, com o consentimento de São José - e queria entender como poderia acontecer isto sem ela violar este "voto" que ambos haviam feito a DEUS, de viverem como irmãos, exclusivamente para DEUS. E o fato conclusivo disto é que DEUS respeitou esta escolha deles; e Maria Santíssima foi Mãe e permaneceu Virgem!

Assim, o fato de que Nossa Senhora e São José não tiveram outros filhos, não representou de modo algum, uma atitude egoísta de um casal que não queria ter mais filhos para não ter "problemas" (como infelizmente acontece hoje em dia com muitos casais, que vêem os filhos como: noites mal dormidas + problemas + gastos + plano de saúde + escola + faculdade, etc.), mas porque eles eram chamados a serem modelos e exaltação das duas vocações: a vocação matrimonial e a vocação ao celibato e à virgindade.

- JESUS é tido como Filho Unigênito do PAI (Jo 3,16) e primogênito de Maria (Lc 2,7). Sabemos que JESUS foi "filho único" tanto do PAI Eterno, quanto de Maria Santíssima, e embora, a palavra 'unigênito' significa 'único', e 'primogênito' significa 'o primeiro', em que sentido podemos entender estas duas palavras: "Unigênito" e "Primogênito"?

Como disse antes, não questionamos aqui em nenhum momento a Virgindade de Maria, e nem vamos entrar neste assunto.

Sabemos que JESUS afirmou: "Todo aquele que faz a vontade de Meu PAI que está nos céus, esse é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe." (Mt 12,50). JESUS já deixava bem claro aqui a importância da família espiritual. Em outro lugar Ele também afirmou: "Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os Anjos de DEUS no céu" (Mt 22,30).

Assim, se aqui na Terra, muitos consideram por família somente os parente de laços sanguíneos e adotivos, na eternidade isso será alargado e estendido a todos os bem-aventurados: seremos uma só e grande família de irmãos e irmãs, e amaremos a todos - até mesmo aqueles que nunca tínhamos visto nesta Terra - assim como amamos nossos pais e irmãos que conhecemos.


- JESUS não cresceu uma criança solitária, brincando sozinho... Aqui entra em cena os parentes e primos de JESUS, que cresceram brincando com ELE, nas ruas de Nazaré, onde após voltar do exílio do Egito, São José e Maria se instalaram. Por isso mesmo, eles eram chamados de 'irmãos de JESUS', pois conviveram com ELE em Sua infância, sob os olhares atentos e amorosos de Maria, sua prima  mais velha ou parente próxima.

- Um outro detalhe que não poderíamos deixar de falar é sobre a paternidade de São José. Ele não foi pai biológico de JESUS, mas foi 'pai adotivo', com todos os direitos e deveres civis e religiosos de pai. DEUS nos quer ensinar como Lhe agrada a adoção. Aqui também aqueles que são filhos adotivos encontram seu exemplo e consolo: JESUS também teve um pai adotivo.

- E ainda a respeito da frase que diz que JESUS é o Filho Primogênito de Maria, nos remetemos agora ao doloroso episódio da Crucificação. Lá, vemos Maria, de pé, junto da Cruz de seu Filho, e ao lado dela, o discípulo amado.

JESUS, antes de expirar deixa o Seu Testamento: "Mulher, eis o teu filho... Filho, eis a tua Mãe". E a passagem ainda nos diz que: "dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa" (Jo 19,27).

Se a Santíssima Virgem, que nasceu toda pura e sem mancha, não levou consigo a maldição do Gênesis sobre o parto com dores (Gen 3,16) quando nasceu JESUS (pois o parto de JESUS foi miraculoso, assim como a concepção), vemos algo bem diferente aos pés da Cruz. Nós, seus filhos pecadores, fomos gerados sob as lancinantes dores místicas que ela sofreu aos pés da Cruz, como profetizou Simeão (cf. Lc 2,35b).

Assim, podemos afirmar que Maria tem muitos filhos sim: nós! E que JESUS não foi filho único. Nós somos Seus irmãos, gerados em Maria, aos pés da Cruz. Pois "Jesus é o Primogênito de toda criação" (Col 1,15). O PAI Eterno mesmo que nos "predestinou para sermos conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que ELE seja o Primogênito entre uma multidão de irmãos" (cf. Rom 8,29).

E só para ilustrar poeticamente esta última parte, queremos concluir este artigo, com o Salmo 86, que fala da nova Jerusalém, ou Sião, comparando-a com a Santíssima Virgem:

"O SENHOR ama a cidade
que fundou no Monte Santo
ama as portas de Sião
mais que as casas de Jacó.

Dizem coisas gloriosas
da Cidade do SENHOR:
Lembro o Egito e Babilônia
entre os meus veneradores.

Na Filisteia ou em Tiro, ou no país da Etiópia,
este ou aquele ali nasceu.
De Sião, porém se diz:
Nasceu nela todo homem:
DEUS é sua segurança.

DEUS anota no Seu livro,
onde inscreve os povos todos:
Foi ali que estes nasceram.
E por isso todos juntos
a cantar se alegrarão;
e, dançando, exclamarão:
'Estão em ti as nossas fontes!'"

Indicamos ainda a leitura deste excelente artigo do padre Paulo Ricardo: https://padrepauloricardo.org/blog/o-presepio-dos-egoistas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se o seu comentário necessitar de resposta, pedimos que envie um e-mail diretamente para nós, e assim que possível responderemos sua pergunta, sugestão, ou comentário. DEUS lhe pague!