1 de dezembro de 2017

Os Doze Graus do Silêncio


O chamado "Doze Graus do silêncio" foi uma revelação recebida por uma Carmelita francesa do século 19, falecida em odor de santidade em 04 de maio de 1874.

Dorothée Quoniam nasceu em 14 de janeiro de 1839. Entrou para o Carmelo de Paris em 27 de agosto de 1859, recebendo posteriormente o nome de Sœur Marie-Aimée de Jésus (Irmã Maria Amada de Jesus).

Neste link você pode conhecer mais sobre a vida dela.

A vida interior poderia consistir nesta única palavra: SILÊNCIO. É o silêncio que prepara os santos. Ele os começa, continua, acaba. Deus, que é eterno, diz apenas uma Palavra: Seu Verbo. Do mesmo modo, seria desejável que todas as nossas palavras exprimissem - Jesus - direta ou indiretamente. Silêncio! Que bela palavra!

§ PRIMEIRO GRAU: Falar pouco com as criaturas e muito com Deus

Eis o primeiro passo, mas indispensável, nas vias solitárias do silêncio. Na escola do silêncio ensinam-se os elementos que dispõem à união com Deus. Aí a alma estuda essa virtude no espírito do Evangelho. Aprofunda-a no espírito da Regra que abraçou, respeitando os lugares consagrados, as pessoas, e, sobretudo, a língua... Nela, tantas vezes, repousa o Verbo ou a Palavra de Deus, o Verbo feito carne… Silêncio em relação ao mundo... silêncio sobre as notícias... silêncio com as almas mais santas... a voz dum Anjo pertubou Maria...

§ SEGUNDO GRAU: Silêncio no trabalho, silêncio nos movimentos

Silêncio no andar, no se portar. Silêncio dos olhos, dos ouvidos, da voz. Silêncio de todo o exterior, preparando a alma a unir-se a Deus. Por esses primeiros esforços, a alma merece, tanto quanto depende dela, ouvir a voz do Senhor. Como esse primeiro passo é bem recompensado! Deus atrai a alma ao deserto. Assim, nesse segundo estado, a alma afasta tudo o que possa distraí-la. Afasta-se do ruído. Foge só, para Aquele que É o Só. Ali ela saboreará as primícias da união divina e o zelo de seu Deus. É o silêncio do recolhimento ou o recolhimento no silêncio.

§ TERCEIRO GRAU: Silêncio da imaginação

Esta faculdade é a primeira que vai bater à porta fechada do jardim do Esposo: emoções estranhas, vagas impressões, tristezas… Aí no seu retiro, a alma dará ao Dileto provas de seu amor. Apresentará à imaginação, que não pode ser aniquilada, os encantos de seu Senhor, as cenas do Calvário, as perfeições de Deus, as belezas do Céu. Permanecerá então, no silêncio, serva silenciosa do Amor Divino.

§ QUARTO GRAU: Silêncio da Memória

Silêncio sobre o passado... esquecimento. É preciso saturar essa faculdade da lembrança das misericórdias de Deus. É o reconhecimento no silêncio. É o silêncio da ação de graças.

§ QUINTO GRAU: Silêncio com as criaturas

Como a nossa condição presente é cheia de miséria! A alma surpreender-se-á muitas vezes conversando interiormente com as criaturas! Até os santos lamentam-se dessa humilhação! Essa alma deve, pois, retirar-se nas profundezas mais íntimas desse lugar oculto, onde repousa a Majestade inacessível do Santo dos Santos. Então, Jesus, seu Consolador e seu Deus, se descobrirá a ela, revelar-lhe-á seus segredos e fá-la-á experimentar a bem-aventurança futura. Jesus lhe tornará insípido tudo o que não é Ele. Pouco a pouco as coisas da terra cessarão de distraí-la.

§ SEXTO GRAU: Silêncio do coração

Se a língua se cala, se os sentidos se acalmam, se a imaginação, a memória, as criaturas se calam, a solidão se faz, senão em volta, ao menos no íntimo dessa alma de esposa; haverá então pouco ruído no coração. Silêncio das afeições, das antipatias; silêncio dos desejos demasiado ardentes; silêncio dum zelo indiscreto; silêncio dum fervor exagerado, silêncio até nos suspiros!… Silêncio do amor, no que há de exaltado. Não dessa exaltação de que Deus é autor. Mas daquela produzida pela natureza. O silêncio do amor, é o amor no silêncio. É o silêncio diante de Deus. Deus, a beleza, a bondade, a perfeição. Silêncio que nada tem de forçado. Silêncio que não prejudica a ternura nem a intensidade do amor, assim como a confissão das faltas não prejudica o silêncio da humanidade. O "Fiat" não prejudicou o silêncio do Getsêmani. O "Sanctus" eterno não prejudica o silêncio dos serafins!… Um coração silencioso é um coração de virgem. É melodia para o coração de Deus. Silenciosa consome-se a lamparina diante do tabernáculo... Até o trono de Deus sobe, silenciosamente, a fumaça do incenso... Eis o silêncio do amor. Nos graus precedentes, o silêncio era ainda queixa da terra. No silêncio do amor, por causa de sua pureza, a alma começa a aprender a primeira nota do cântico sagrado, o canto do Céu.

§ SÉTIMO GRAU: Silêncio da natureza, do amor próprio

Silêncio à vista da própria corrupção e incapacidade. Silêncio da alma que se compraz em sua baixeza. Silêncio ante os louvores e a estima. Silêncio diante do desprezo, das preferências, das murmurações. Eis o silêncio da mansidão e da humildade. Silêncio da natureza ante a alegria e o prazer. A flor desabrocha em silêncio. Seu perfume louva em silêncio o Criador. Assim deve fazer a alma. Silêncio da natureza no sofrimento e na contradição. Silêncio sobre os jejuns e vigílias. Silêncio sobre o cansaço, o frio, o calor. Silêncio na saúde, na doença, na privação total. É o silêncio eloqüente da verdadeira pobreza e da penitência! Amável silêncio da morte a todo criado e humano. E o silêncio do "eu" humano perdendo-se no querer Divino. As reclamações da natureza não o perturbam, porque esse silêncio está acima da natureza.

§ OITAVO GRAU: O silêncio do espírito

Afastar os pensamentos inúteis, agradáveis, muito humanos. Só eles perturbam o silêncio do espírito. Porque o pensamento, em si mesmo, não pode deixar de existir. Nosso espírito quer a verdade. E nós lhe damos a mentira! Ora, a verdade essencial é Deus! Deus se basta. E Ele não bastaria à pobre inteligência humana?! Pensar continuamente em Deus é, certamente, impossível à fraqueza humana, salvo puro dom de sua bondade. O silêncio do espírito, em matéria de fé, é contentar-se com as obscuridades da fé. Silêncio, pois, de argumentos sutis, que enfraquecem a vontade e diminuem o amor. Silêncio na intenção: pureza, simplicidade. Silêncio nas buscas pessoais. Na meditação: silêncio da curiosidade. Na contemplação, silêncio das potências da alma, que travam a Obra de Deus. Silêncio do orgulho. Este se insinua por toda a parte e sempre, procurando subir no conceito das criaturas. Cale-se o orgulho. Far-se-á o silêncio da simplicidade, da retidão, do despojamento total. Um espírito que combate tais inimigos é semelhante aos anjos que vêem sempre a Face de Deus. Deus eleva até Si essa inteligência sempre no silêncio.

§ NONO GRAU: Silêncio do julgamento

Silêncio quanto às pessoas e às coisas. Não julgar. Não deixa transparecer sua opinião. Fazer como se não se tem opinião, isto é, ceder simplesmente, salvo se a caridade ou a prudência se opuser. É o bem-aventurado silêncio da infância espiritual. É o silêncio dos perfeitos. É o silêncio dos anjos e arcanjos, quando executam as ordens de Deus. É o silêncio do Verbo encarnado.

§ DÉCIMO GRAU: Silêncio da vontade

O silêncio ante uma ordem, o silêncio diante das santas leis da Regra, não é bastante. O Senhor tem algo de mais profundo e mais difícil a ensinar-nos: o silêncio do escravo sob os açoites do seu senhor. _ Mas, feliz escravo! Seu Senhor é Deus! É o silêncio da vítima sobre o altar. É o silêncio do cordeiro que se tosquia. É o silêncio nas trevas... Silêncio no qual nem se pede a luz… que lhe alegra. É o silêncio nas angústias do coração e nas dores da alma. É o silêncio de uma alma favorecida por Deus, que, sentindo-se repelida, não pronuncia estas palavras: "Por quê? Até quando?" É o silêncio do abandono... Silêncio ante a severidade do olhar de Deus... Silêncio sob o peso da Mão Divina. Silêncio cuja única queixa é a do amor. É o silêncio da crucifixão. É o silêncio dos mártires. É o silêncio da agonia de Jesus. Sim. Esse silêncio é o Divino Silêncio. Nada se compara à Sua Voz! Nada resiste à sua prece! Nada mais digno de Deus... essa espécie de louvor no sofrimento... "Fiat" no lugar; silêncio no trabalho da morte… Enquanto essa vontade humilde e livre, verdadeiro holocausto de amor, procura aniquilar-se para glorificar o Nome de Deus, Deus a transforma em Sua Vontade. Que falta ainda à perfeição dessa alma? Que lhe falta para a união? Que é necessário para completar sua transformação no Cristo? Expirar no ósculo do Senhor... Divina, inefável recompensa.

§ DÉCIMO PRIMEIRO GRAU: Silêncio consigo mesma

Não monologar interiormente. Não se escutar. Não se queixar, nem consolar-se. Em uma palavra: calar-se interiormente; não pensar em si; isolar-se, ficar a sós com Deus. Eis o silêncio mais difícil. É, entretanto, necessário para unir-se a Deus tão perfeitamente quanto possível a uma pobre criatura. Com a graça de Deus, ela chega freqüentemente até aí. Detém-se, contudo, nesse grau. Não o compreende. Muito menos o pratica. É o silêncio do nada, mais heroico que o silêncio da morte.

§ DÉCIMO SEGUNDO GRAU: Silêncio com Deus

No começo, Deus dizia à alma: "Fala pouco com as criaturas e muito Comigo." Agora, Ele lhe diz: "Não Me fales mais." Silêncio com Deus. Consiste em aderir a Ele; apresentar-se, expor-se, oferecer-se a Ele. É ouvi-Lo, amá-Lo, adorá-Lo, repousar Nele. É o silêncio da eternidade. É a união da alma com Deus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se o seu comentário necessitar de resposta, pedimos que envie um e-mail diretamente para nós, e assim que possível responderemos sua pergunta, sugestão, ou comentário. DEUS lhe pague!