O
chamado "Doze Graus do silêncio" foi uma revelação
recebida por uma Carmelita francesa do século 19, falecida em odor
de santidade em 04 de maio de 1874.
Dorothée
Quoniam nasceu em 14 de janeiro de 1839. Entrou para o Carmelo de
Paris em 27 de agosto de 1859, recebendo posteriormente o nome
de Sœur Marie-Aimée de Jésus (Irmã Maria Amada de Jesus).
Neste
link
você pode conhecer mais sobre a vida dela.
A
vida interior poderia consistir nesta única palavra: SILÊNCIO. É
o silêncio que prepara os santos. Ele os começa, continua, acaba. Deus,
que é eterno, diz apenas uma Palavra: Seu Verbo. Do
mesmo modo, seria desejável que todas as nossas palavras exprimissem
- Jesus - direta ou indiretamente. Silêncio!
Que bela palavra!
§
PRIMEIRO GRAU: Falar pouco com as criaturas e muito com Deus
Eis
o primeiro passo, mas indispensável, nas vias solitárias do
silêncio. Na escola do silêncio ensinam-se os elementos que dispõem
à união com Deus. Aí a alma estuda essa virtude no espírito do
Evangelho. Aprofunda-a no espírito da Regra que abraçou,
respeitando os lugares consagrados, as pessoas, e, sobretudo, a
língua... Nela, tantas vezes, repousa o Verbo ou a Palavra de Deus,
o Verbo feito carne… Silêncio em relação ao mundo... silêncio
sobre as notícias... silêncio com as almas mais santas... a voz dum
Anjo pertubou Maria...
§
SEGUNDO GRAU: Silêncio no trabalho, silêncio nos movimentos
Silêncio
no andar, no se portar. Silêncio dos olhos, dos ouvidos, da voz.
Silêncio de todo o exterior, preparando a alma a unir-se a Deus. Por
esses primeiros esforços, a alma merece, tanto quanto depende dela,
ouvir a voz do Senhor. Como esse primeiro passo é bem recompensado!
Deus atrai a alma ao deserto. Assim, nesse segundo estado, a alma
afasta tudo o que possa distraí-la. Afasta-se do ruído. Foge só,
para Aquele que É o Só. Ali ela saboreará as primícias da
união divina e o zelo de seu Deus. É o silêncio do
recolhimento ou o recolhimento no silêncio.
§
TERCEIRO GRAU: Silêncio da imaginação
Esta
faculdade é a primeira que vai bater à porta fechada do jardim do
Esposo: emoções estranhas, vagas impressões, tristezas… Aí no
seu retiro, a alma dará ao Dileto provas de seu amor. Apresentará à
imaginação, que não pode ser aniquilada, os encantos de seu
Senhor, as cenas do Calvário, as perfeições de Deus, as belezas do
Céu. Permanecerá então, no silêncio, serva silenciosa do Amor
Divino.
§
QUARTO GRAU: Silêncio da Memória
Silêncio
sobre o passado... esquecimento. É preciso saturar essa faculdade da
lembrança das misericórdias de Deus. É o reconhecimento no
silêncio. É o silêncio da ação de graças.
§
QUINTO GRAU: Silêncio com as criaturas
Como
a nossa condição presente é cheia de miséria! A alma
surpreender-se-á muitas vezes conversando interiormente com as
criaturas! Até os santos lamentam-se dessa humilhação! Essa alma
deve, pois, retirar-se nas profundezas mais íntimas desse lugar
oculto, onde repousa a Majestade inacessível do Santo dos Santos.
Então, Jesus, seu Consolador e seu Deus, se descobrirá a ela,
revelar-lhe-á seus segredos e fá-la-á experimentar a
bem-aventurança futura. Jesus lhe tornará insípido tudo o que não
é Ele. Pouco a pouco as coisas da terra cessarão de distraí-la.
§
SEXTO GRAU: Silêncio do coração
Se
a língua se cala, se os sentidos se acalmam, se a imaginação, a
memória, as criaturas se calam, a solidão se faz, senão em volta,
ao menos no íntimo dessa alma de esposa; haverá então pouco ruído
no coração. Silêncio das afeições, das antipatias; silêncio dos
desejos demasiado ardentes; silêncio dum zelo indiscreto; silêncio
dum fervor exagerado, silêncio até nos suspiros!… Silêncio do
amor, no que há de exaltado. Não dessa exaltação de que Deus é
autor. Mas daquela produzida pela natureza. O silêncio do amor, é o
amor no silêncio. É o silêncio diante de Deus. Deus, a beleza, a
bondade, a perfeição. Silêncio que nada tem de forçado. Silêncio
que não prejudica a ternura nem a intensidade do amor, assim como a
confissão das faltas não prejudica o silêncio da humanidade. O
"Fiat" não prejudicou o silêncio do Getsêmani. O
"Sanctus" eterno não prejudica o silêncio dos
serafins!… Um coração silencioso é um coração de virgem. É
melodia para o coração de Deus. Silenciosa consome-se a lamparina
diante do tabernáculo... Até o trono de Deus sobe, silenciosamente,
a fumaça do incenso... Eis o silêncio do amor. Nos graus
precedentes, o silêncio era ainda queixa da terra. No silêncio do
amor, por causa de sua pureza, a alma começa a aprender a primeira
nota do cântico sagrado, o canto do Céu.
§
SÉTIMO GRAU: Silêncio da natureza, do amor próprio
Silêncio
à vista da própria corrupção e incapacidade. Silêncio da alma
que se compraz em sua baixeza. Silêncio ante os louvores e a estima.
Silêncio diante do desprezo, das preferências, das murmurações.
Eis o silêncio da mansidão e da humildade. Silêncio da natureza
ante a alegria e o prazer. A flor desabrocha em silêncio. Seu
perfume louva em silêncio o Criador. Assim deve fazer a alma.
Silêncio da natureza no sofrimento e na contradição. Silêncio
sobre os jejuns e vigílias. Silêncio sobre o cansaço, o frio, o
calor. Silêncio na saúde, na doença, na privação total. É o
silêncio eloqüente da verdadeira pobreza e da penitência! Amável
silêncio da morte a todo criado e humano. E o silêncio do "eu"
humano perdendo-se no querer Divino. As reclamações da natureza não
o perturbam, porque esse silêncio está acima da natureza.
§
OITAVO GRAU: O silêncio do espírito
Afastar
os pensamentos inúteis, agradáveis, muito humanos. Só eles
perturbam o silêncio do espírito. Porque o pensamento, em si mesmo,
não pode deixar de existir. Nosso espírito quer a verdade. E nós
lhe damos a mentira! Ora, a verdade essencial é Deus! Deus se basta.
E Ele não bastaria à pobre inteligência humana?! Pensar
continuamente em Deus é, certamente, impossível à fraqueza humana,
salvo puro dom de sua bondade. O silêncio do espírito, em matéria
de fé, é contentar-se com as obscuridades da fé. Silêncio, pois,
de argumentos sutis, que enfraquecem a vontade e diminuem o amor.
Silêncio na intenção: pureza, simplicidade. Silêncio nas buscas
pessoais. Na meditação: silêncio da curiosidade. Na contemplação,
silêncio das potências da alma, que travam a Obra de Deus. Silêncio
do orgulho. Este se insinua por toda a parte e sempre, procurando
subir no conceito das criaturas. Cale-se o orgulho. Far-se-á o
silêncio da simplicidade, da retidão, do despojamento total. Um
espírito que combate tais inimigos é semelhante aos anjos que vêem
sempre a Face de Deus. Deus eleva até Si essa inteligência sempre
no silêncio.
§
NONO GRAU: Silêncio do julgamento
Silêncio
quanto às pessoas e às coisas. Não julgar. Não deixa transparecer
sua opinião. Fazer como se não se tem opinião, isto é, ceder
simplesmente, salvo se a caridade ou a prudência se opuser. É o
bem-aventurado silêncio da infância espiritual. É o silêncio dos
perfeitos. É o silêncio dos anjos e arcanjos, quando executam as
ordens de Deus. É o silêncio do Verbo encarnado.
§
DÉCIMO GRAU: Silêncio da vontade
O
silêncio ante uma ordem, o silêncio diante das santas leis da
Regra, não é bastante. O Senhor tem algo de mais profundo e mais
difícil a ensinar-nos: o silêncio do escravo sob os açoites do seu
senhor. _ Mas, feliz escravo! Seu Senhor é Deus! É o silêncio da
vítima sobre o altar. É o silêncio do cordeiro que se tosquia. É
o silêncio nas trevas... Silêncio no qual nem se pede a luz… que
lhe alegra. É o silêncio nas angústias do coração e nas dores da
alma. É o silêncio de uma alma favorecida por Deus, que,
sentindo-se repelida, não pronuncia estas palavras: "Por quê?
Até quando?" É o silêncio do abandono... Silêncio ante a
severidade do olhar de Deus... Silêncio sob o peso da Mão Divina.
Silêncio cuja única queixa é a do amor. É o silêncio da
crucifixão. É o silêncio dos mártires. É o silêncio da agonia
de Jesus. Sim. Esse silêncio é o Divino Silêncio. Nada se compara
à Sua Voz! Nada resiste à sua prece! Nada mais digno de Deus...
essa espécie de louvor no sofrimento... "Fiat" no lugar;
silêncio no trabalho da morte… Enquanto essa vontade humilde e
livre, verdadeiro holocausto de amor, procura aniquilar-se para
glorificar o Nome de Deus, Deus a transforma em Sua Vontade. Que
falta ainda à perfeição dessa alma? Que lhe falta para a união?
Que é necessário para completar sua transformação no Cristo?
Expirar no ósculo do Senhor... Divina, inefável recompensa.
§
DÉCIMO PRIMEIRO GRAU: Silêncio consigo mesma
Não
monologar interiormente. Não se escutar. Não se queixar, nem
consolar-se. Em uma palavra: calar-se interiormente; não pensar em
si; isolar-se, ficar a sós com Deus. Eis o silêncio mais difícil.
É, entretanto, necessário para unir-se a Deus tão perfeitamente
quanto possível a uma pobre criatura. Com a graça de Deus, ela
chega freqüentemente até aí. Detém-se, contudo, nesse grau. Não
o compreende. Muito menos o pratica. É o silêncio do nada, mais
heroico que o silêncio da morte.
§
DÉCIMO SEGUNDO GRAU: Silêncio com Deus
No
começo, Deus dizia à alma: "Fala pouco com as criaturas e
muito Comigo." Agora, Ele lhe diz: "Não Me fales mais."
Silêncio com Deus. Consiste em aderir a Ele; apresentar-se,
expor-se, oferecer-se a Ele. É ouvi-Lo, amá-Lo, adorá-Lo, repousar
Nele. É o silêncio da eternidade. É a união da alma com Deus!
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