Certo
dia, São Francisco olhou para o Céu, abriu os braços e, com o
coração inflamado de amor, disse: “Pai!”
Depois de um longo tempo de profundo silêncio continuou: “... nosso... que estais no Céu...”.
Naquela pequena palavra, ele encontrou uma infinidade de motivos para louvar a Deus, e permaneceu muito tempo entretendo-se com Ele em oração.
Não é pela força de
muitas palavras bonitas e bem elaboradas, que alcançaremos uma
perfeita oração: “Nas
vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os
pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras”
(Mt 6,7). Simples palavras, ditas com fé, humildade, amor,
sinceridade – e profundidade – dão mais glória a Deus do que
horas e horas de palavras vazias, como “nuvens
sem água, que os ventos levam”. (Jd 1,12)
Sobre
São Francisco disseram: era um homem que “tanto
rezava, que havia se transformado, ele mesmo, em oração”.
Isso acontecia, porque São Francisco permanecia
continuamente na presença divina.
“Buscava locais
solitários onde colocava sua alma inteiramente em Deus”
(Celano, 1ª Vida, 71). Vivia como se realmente visse Deus a seu
lado; fazia tudo com Ele e para Ele. Não vivia para agradar os
outros, nem a si mesmo, mas só a Deus.
O primeiro fruto da
oração é a Luz: quem reza passa enxergar com mais clareza, e vê
coisas que os outros não vêem, em si mesmo e em tudo que o cerca,
pois é iluminado, esclarecido e guiado pelo Espírito Santo: “Deus
é luz e Nele não há treva alguma”
(1Jo 1,5). O segundo fruto – depois que a Luz tudo clareia – é
caminhar. Deve-se, então, procurar dar passos firmes
e constantes,
para conseguir galgar os degraus do amadurecimento na vida humana e
espiritual, e ganhar o terceiro fruto: a Liberdade dos filhos de
Deus, e então dizer com toda a segurança de São Paulo: “Eu
vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim...”
(Gl 2,20), ou de Elizabeth da Trindade: “Crer
que um Ser chamado Amor, habita em nós, a todo instante do dia e da
noite, e nos pede
que vivamos em sociedade com Ele,
foi o que fez de minha vida um céu antecipado”.
É preciso que tenhamos a Deus como nosso único tesouro! Todos nós
sabemos disso – por teoria – porque infelizmente não vivemos, e
assim, não alcançamos a paz da consciência e do coração: “Se
te voltas para as coisas exteriores, depressa afastas a Jesus e
perdes a Sua Graça (...) Não queiras que ninguém se ocupe de ti em
seu coração, nem te preocupes com o amor de alguém”.
(Imit. Cristo II. 8, 3 – 4)
Já
ouvimos tantas vezes a sentença de Cristo: “onde
está o teu tesouro, lá também está teu coração”
(Mt 6,21), porque não buscamos este tesouro para sermos felizes e
livres, e ter a verdadeira realização e paz?!...
O
caminho para apropriarmos deste tesouro que nos é oferecido
certamente é a oração. É algo natural: se amamos alguém, não
desejaremos jamais contrariá-lo, e se o temos por nosso tesouro, não
quereremos ficar longe dele, mas antes buscaremos nos aprofundar
neste relacionamento de amor, para possuir e ser possuídos por ele.
E “quanto mais uma
pessoa se envolve com as coisas exteriores, mas ela se distrai”
(Imit. Cristo II. 1, 7), mais ela perde o contato com o que é
eterno.
Oração
sem intimidade profunda, não é oração. Não devemos nos
relacionar com Deus como algo distante de nós, mas como Aquele que
nos conhece por inteiro. “A
oração... não é senão tratar de amizade... com quem sabemos que
nos ama” (Vida de Sta.
Teresa de Jesus. VIII,5), ela deve ser uma
entrega, um
abandono no amor, com
confiança.
Como diz o Catecismo: oração é uma “relação
viva e
pessoal com o Deus vivo e
verdadeiro” (CIC § 2558), ou seja, uma convivência
íntima.
Se
nossa oração se tornou um ato mecânico, onde só se repete o que
se aprendeu, mas o pensamento está bem distante (ou até mesmo bem
perto: em nós), estamos perdendo tempo; e “o
tempo da oração já não mais (nos)
pertence” diz Santa
Teresa de Jesus d’Ávila (Cam. Perf.XXIII,2); e ela também
afirmava: “Não faleis
com Deus, pensando em outra coisa”. (Cam. Perf.XXII,8)
É
claro que haverá dias em que estaremos mais distraídos, em que
seremos mais tentados, etc., mas é preciso que haja uma luta, que
seja serena, mas firme e contínua, pois “a
oração não se reduz ao surgir
espontâneo de um
impulso interior;
para rezar é
preciso querer”
(CEC § 1650); e esse querer se traduz em esforço,
força de vontade!
Não
podemos esperar o dia em que estivermos bem para rezar bem,
precisamos procurar rezar bem todos os dias, e “a
humildade deve ser o fundamento da oração, pois ‘não sabemos
pedir como convém’”. (Rm 8, 26) (CEC § 2559)
Assim, o que mais prende
sua atenção e preocupação durante o dia-a-dia: a família? os
problemas pessoais? os próprios pecados? os pecados dos outros?,
etc.. Na verdade, onde
está o seu tesouro?!
Você sabe ter intimidade com Ele? Na oração, encontrarás Jesus - o precioso tesouro, pelo qual se vende todo o resto, para adquiri-lo. (cf. Mt 13, 44)