18 de dezembro de 2021

A interessante História das Antífonas do Ó e a devoção a Nossa Senhora do Ó

  AAntífonas do Ó” são 7 antífonas especiais, entoadas em todos os Mosteiros do mundo, no Tempo do Advento, de 17 a 23 de dezembro, antes e depois do canto do Magnificat, na hora canônica das Vésperas, e também antes da proclamação do Santo Evangelho. São chamadas assim porque começam com a interjeição “Ó”.

Veneráveis por sua antiguidade, chegaram a ser, em algumas igrejas medievais, um total de 12 antífonas, que podem ter sido relacionadas aos 12 Profetas, às 12 Tribos de Israel, ou aos 12 Apóstolos.

O Manuscrito mais antigo conhecido a conter esta série completa de textos latinos (sem música) é o “Liber Responsalis” do Papa São Gregório Magno, contido na “Antiphonaire dit de Compiègne”, conservada na “Bibliothèque Nationale de France”.

Fig.: Bibliothèque Nationale de France,
MS Latim 17436 (século IX), fol. 36.

Este documento contém uma seção intitulada: “Antiphonae majores in Evangelio” (As Grandes Antífonas do Evangelho) onde, além destas 7 antífonas conhecidas atualmente, aparecem mais duas adicionais:
O virgo virginum” (O Virgem das virgens) e “Orietur sicut sol Salvator mundi” (O Salvador do mundo nascerá como o Sol).

Posteriormente, estas Grandes Antífonas foram adaptadas para o inglês por um dos primeiros poetas anglo-saxões conhecido: Cynewulf (séc. IX), que alguns referem também como Sacerdote ou como Bispo.

Elas formam a base de um poema, escrito por ele, intitulado “Cristo I”, que foi preservado em apenas um manuscrito conhecido: o Livro de Exeter; infelizmente, as primeiras oito páginas deste manuscrito foram perdidas, e só é possível ler a partir da antífona: O Rex Gentium.

Neste seu poema, aparecem 4 antífonas além das 7 habituais: O Hierusalem, O Virgo virginum, O Rex Pacifice, e O mundi Domina.

Provavelmente Cynewulf teve acesso a algum documento mais antigo que continha essas 11 antífonas.

Há inclusive outro manuscrito, conhecido como o “Antifonário de Hartker” (de fins do séc. X), que é conservado na Stiftsbibliothek, em St. Gallen, Suíça, que contem toda essa série de antífonas aludidas por Cynewulf, e mais uma extra: “O Gabriel”.

Fig.: St. Gallen Codex 390 (ca. 990–1000 DC), pp. 40–41.

No período conhecido como ‘Contra-Reforma’, o Papa São Pio V, revisou e padronizou muitos aspectos da liturgia latina, conservando o que era de longa data na Tradição da Igreja, e que tinha ao mesmo tempo fontes seguras, levando a uma prática universal, conhecida como ‘Rito Tridentino’. Isso incluiu, nesse caso, a eliminação de quaisquer variantes além das 7 Grandes Antífonas que são conhecidas atualmente.

Na presente liturgia ordinária, estas 7 antífonas, dirigidas ao Messias, não só foram conservadas como antífonas do Magnificat, mas também foram introduzidas como antífonas do Evangelho destes dias que antecedem a Vigília do Natal.


Apresentamos a seguir estas 7 antífonas conhecidas, e em seguida as outras 5 que foram referidas nestes antigos documentos:

·    17 dez. «O Sapientia»: Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, atingindo de uma a outra extremidade e tudo dispondo com força e suavidade; vinde ensinar-nos o caminho da prudência!

·  18 dez. «O Adonai»: Ó Adonai, guia da Casa de Israel, que aparecestes a Moisés na chama de fogo, no meio da sarça ardente e lhe destes a Lei no Sinai; vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço!

·    19 dez. «O Radix Jesse»: Ó Raiz de Jessé, erguida como estandarte dos povos, em cuja presença os reis se calarão e a quem as nações invocarão; vinde libertar-nos, não tardeis mais!

·    20 dez. «O Clavis David»: Ó Chave de Davi, e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre: vinde e libertai da prisão o cativo assentado nas trevas e à sombra da morte!

·    21 dez. «O Oriens»: Ó Oriente, Sol nascente, esplendor da Luz eterna e Sol de Justiça! Vinde e iluminai os que estão sentados nas trevas e à sombra da morte!

·        22 dez. «O Rex Gentium»: Ó Rei das nações e objeto de seus desejos, Pedra angular que reunis em Vós judeus e gentios: vinde e salvai o homem que do barro formastes!

·        23 dez. «O Emmanuel»: Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e Salvador das nações; vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!

As outras 5 antífonas, são dirigidas, além de Cristo, também à Santíssima Virgem, ao Anjo Gabriel, e à cidade de Jerusalém.

·        «O Virgo virginum»: Ó Virgem das Virgens, como será isso? Pois nunca viram semelhante à primeira, nem haverá a seguinte (pois nunca houve ninguém como tu, nem haverá). Filhas de Jerusalém, porque me admiram? É um Mistério divino o que vês.

·                                    «O Gabriel»: Ó Gabriel, Mensageiro do Céu, que veio até mim pelas portas fechadas e me anunciou a Palavra: Tu conceberás e darás à luz um Filho, e Ele será chamado Emanuel.

·        «O Rex Pacifice»: Ó Rei da Paz, que nasceu antes de todos os séculos, vem pela porta de ouro, visita os que Tu redimiste e conduza-os de volta ao lugar de onde caíram pelo pecado.

·         «O Mundi Domina»: Ó Senhora do mundo, germinada de semente real, Cristo já saiu de seu ventre, como um noivo de sua câmara nupcial; aqui está numa manjedoura Quem as estrelas governa.

·        «O Hierusalem»: Ó Jerusalém, cidade do Deus supremo, levanta os teus olhos em redor, e vê o teu Senhor, que já vem para te libertar das cadeias.


Um interessante detalhe é que quando se lê a letra inicial de cada uma das 7 antífonas (a partir da última), resultam no acróstico «ero cras», que em latim significa «virei amanhã»; uma resposta do Messias à súplica dos fiéis que anseiam por Sua vinda.

Ligada à tradição das antífonas, existe uma Festa de Nossa Senhora, celebrada no dia 18 de dezembro, denominada de ‘Nossa Senhora da Expectação do Ó’, ou simplesmente de ‘Nossa Senhora do Ó’.

A Expectação (expectativa) do parto não é simplesmente a ansiedade natural da jovem Mãe que espera o seu primogênito. Ao esperar seu Filho, a Santíssima Virgem, ultrapassa os ímpetos afetivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da Salvação do mundo; é o desejo inspirado e sobrenatural da “Bendita entre as mulheres”, que foi escolhida para Mãe-Virgem do Redentor, e para Corredentora da humanidade. Além disso, é o anseio de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Messias, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e límpido dos espelhos.

Esta devoção mariana surgiu na Espanha, e foi instituída como festa no ‘X Concílio de Toledo’ (séc. VI), presidido pelo arcebispo Santo Eugênio III, juntamente com São Frutuoso de Braga e Santo Ildefonso. Na ocasião, transferindo-se a Festa da Anunciação para o dia 18 de dezembro, Santo Ildefonso determinou que se celebrasse com o título de “Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria”, mas pelo fato de que neste dia se cantava as Antífonas Maiores, iniciadas pela interjeição “Ó”, os fiéis começaram a chamar esta de Festa de Nossa Senhora do Ó.


·                  Fontes de pesquisa:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%ADfonas_do_%C3%93

https://www.hymnsandcarolsofchristmas.com/Hymns_and_Carols/Notes_On_Carols/O_Antiphons/christ_by_cynewulf.htm

https://www.hymnologyarchive.com/o-come-o-come-emmanuel

https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b8426787t/f77.item

http://perolasfinas.blogspot.com/2011/12/antifonas-do-o.html

https://www.newadvent.org/cathen/11173b.htm

https://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhora-o/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_do_%C3%93

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