24 de julho de 2020

Sobre Dom Henrique Soares da Costa

Quero partilhar aqui um texto que recebi por whatsapp, escrito pelo Padre Marcelo Tenório, sobre Dom Henrique Soares da Costa, falecido neste último sábado, 18 de julho de 2020; hoje 7º dia de seu falecimento. Este belíssimo texto, expressa o sentimento do coração de tantos brasileiros, que clamaram no dia de seu falecimento: #SantoSubito

Fiel à Doutrina da Santa Igreja e verdadeiro Pastor no meio de seu rebanho

O CHORO PELO BISPO ALHEIO

Esses dias o Brasil católico parou para chorar um bispo.
Mas bispos morrem sempre!
Mas que choro é esse, então?
Que avalanche de comoção invadiu as mídias, invadindo também a alma da gente?!

Mas bispos morrem sempre! Padres, também...

Conheço bem, os bispos. Morava na frente do Palácio dos bispos, prédio imponente, na larga avenida de Santo Antônio.

Não morava na avenida, morava ao lado, numa travessa que unia rua do Recife e Avenida Santo Antônio, que todos insistiam em falar  “beco do Bispo”. Esse beco, até que existia, mas atrás do Palácio.

Minha família conhecia bem os bispos! E viram bispos morrerem.

Eram as minhas tias que, com suas amigas, arrumavam o palácio e o quarto episcopal, na chegada do novo bispo. O novo brasão, meu irmão mais velho pintava, para ser posto na sacada do primeiro andar.

Bispo eloquente, nobre, fidalgo,
como Dom Mário de Miranda Vilas Boas,
Bispo sisudo, gordo e diabético, como Dom Juvêncio Brito... até bispo mártir, que derramou seu sangue, caindo para morte, após levar três tiros de um padre, desabando na capela do Palácio, aos pés do Santíssimo, como Dom Expedito... Dom Adelino, Dom Milton.... e tantos demais: uns conheci de perto, outros por minha família.

Conheci bispos e não chorei por nenhum deles. Não por desafeto. Uns porque não os conheci, outros, porque não chorei, mesmo.

Hoje vejo todos chorando o bispo alheio. Comoção, lamentos, lágrimas e pedido de beatificação, com petição aberta pela internet, numa versão avançada do Sensus Fidei.

Devo entender o porquê de tudo isso. De como um bispo de uma diocese simples,  tornou-se gigante dessa forma?

Isso me lembra a indagação que Jesus fez aos que foram até João:

“O que fostes ver no deserto?”

E em Palmares, o que fomos ver?
O que foi visto por lá?
Um simples bispo sendo bispo.
Apenas isso.
Vivendo apaixonado por sua diocese, e pelo seu rebanho. Com os pés no chão e olhos abertos para Deus.

Onde estava o bispo? Onde o povo estava!

Eis o bispo - e aqui caia a demagogia etéria de que batina afasta o povo - no meio do povo estava o bispo: ora na feira, cantando os “benditos” do Juazeiro com os simples.  E como cantava!

“Aí que caminho tão longo,
Cheio de pó e areia,
Valei-me meu padi Ciço
E a Mãe de Deus das Candeias!”

Ora ensinado a doutrina, de forma tranquila, com sua habilidade teológica!

Estava no meio do povo.
Numa das cheias, em Palmares, no meio da lama, está lá o bispo de desobrigas, botas e solidéu, só-para-Deus, que mais parecia a tampa do queijo-do-reino, na lama com suas ovelhas enlameadas!

O cheiro de ovelha não se pega longe delas.
(Temos que aprender isso, todos nós, os eclesiásticos!)

Não esperava, ele mesmo ia.

O povo se sentiu amado pelo bispo.

Não havia o modismo de “igreja em saída”, porque nunca se trancafiou: nem como padre, nem como bispo...

De Palmares, atingiu o Brasil inteiro pela simplicidade, sem perder a dignidade,
Pela clareza, sem perder a ciência. Falava verdades e acreditava nelas...

O povo sabe quando um pastor acredita no que fala!

E aqui está o segredo entre um circo cheio e uma igreja vazia. O primeiro fala mentiras e acredita nelas; a segunda fala verdades que nem ela mesma acredita!

Dom Henrique acreditava e falava!
E aqui estava seu segredo mais caro.
Não tinha vocação para cargos, nem tão pouco brilhava em seus olhos a fome de carreira a galgar.

Queria levar Jesus às almas e as almas à Jesus. Somente.

E o povo carente das verdades da fé, sucumbindo nas trevas dos achismos ideológicos e dos teologismos, foi atrás da água mais pura.

E agora chora a secura que se avizinha?!

Não adianta prender o povo, mandar no povo, engavetar o povo. Ele termina sempre indo. Ou estamos com ele, ou ficamos, sozinhos.

E Deus fala, também no povo!

Mas não nos parece um erro, essa exclusividade excludente?

Essa predileção do povo por um, entre outros?

O grande segredo de um pastor, não é ter o "cheiro das ovelhas", isso não é difícil de fazer, até politico sai das feiras com o cheiro do povo, para se desinfetar, depois, em seus lavabos. O bom pastor, com cheiro de ovelhas, deixa sempre nas ovelhas o cheiro do pastor. E aqui, precisamente aqui, encontra-se o segredo de Dom Henrique: deixava no povo o cheiro, o perfume, o suave odor de seu episcopado!

Aqui o segredo que atraia gente de todo canto, de todas as partes, de todos os lados. E nós, os eclesiásticos, com humildade aprendamos a deixar em nossas ovelhas o cheiro do pastor e assim seremos também amados, lembrados e...talvez, chorados, porque terá valido a pena ter estado aqui!

Chorai. Sinos de Palmares, chorai,
porque morto é o bispo, mas o perfume do seu episcopado continua por aí, nas ovelhas daí e de outros prados...

Pe. Marcelo Tenorio
21 de julho, 2020.