A Igreja dedica o mês de
novembro às almas, iniciando com a “Solenidade de Todos os Santos”
no dia 1º e comemorando no dia 2 os fiéis falecidos. Quando o dia
1º ocorre durante a semana, a celebração é transferida para o
próximo domingo, facilitando assim às pessoas a participação na
Santa Missa. Já o chamado “Finados” é sempre celebrado no dia
2, pois também é um feriado civil.
É muito significativo que
estas duas celebrações estejam próximas, pois são intimamente
ligadas entre si no que se refere à “comunhão dos santos”; e
juntas remetem a um tema de suma importância da nossa fé: a
ressurreição e a vida eterna.
Sabe-se que desde os tempos
apostólicos, a Igreja sempre ofereceu orações - principalmente a
Santa Missa - em sufrágio pelos falecidos, ou pediu a intercessão
daqueles já considerados santos, pois cremos que “a Igreja do Céu,
a Igreja da Terra e a Igreja do Purgatório estão misteriosamente
unidas” (B. João Paulo II - Reconciliatio et poenitentia, 12)
formando em Cristo uma única Igreja.
Crer que “todos os crentes
formam um só Corpo em Cristo (Rm 12, 5), e que o bem de uns é
comunicado aos outros” (Sto. Tomás) faz parte da fé e confiança
que devemos ter na força da oração do próprio Cristo: “que
todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para
que também eles estejam em Nós... quero que, onde Eu estou, estejam
comigo aqueles que Me deste, para que vejam a Minha glória que Me
concedeste” (Jo 17, 21.24).
A adesão a Jesus pela fé,
nos garante que, através da comunhão com Ele - que é a Cabeça do
Corpo Místico da Igreja - alcançaremos também aquilo que Ele
conquistou para nós: a ressurreição e a vida eterna! E é esta
nossa fé que nos difere de diversas expressões religiosas.
A crença na ressurreição
engloba o que há de mais intrínseco em nossa fé: é impossível se
dizer cristão quem nega a ressurreição, favorecendo uma doutrina
oposta. A esse respeito lê-se na Palavra de Deus: “A passagem de
uma sombra: eis a nossa vida, e nenhum reinício é possível uma vez
chegado o fim, porque o selo lhe é aposto e ninguém volta” (Sab
2, 5), “como está determinado que os homens morram uma só vez”
(Hb 9, 27).
Jesus vincula a fé na
ressurreição à Sua própria Pessoa, dizendo: “Eu Sou a
Ressurreição e a Vida!” (Jo 11, 25). Ele não é um mestre de
vida espiritual, ou um ser iluminado que chegou ao mais alto grau de
evolução espiritual... Ele é o Filho de Deus e Deus mesmo; “sofreu
livremente a morte por nós em uma submissão total e livre à
vontade de Deus, Seu Pai. E por Sua morte venceu a morte, abrindo,
assim, a todos os homens a possibilidade da salvação” (Cat.
1019).
São Paulo exortava: “Como
podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos
mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não
ressuscitou! E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa
pregação, vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo
ressuscitou dos mortos, como primícias dos que adormeceram” (I Cor
15, 12 - 14. 20). E assim “cremos firmemente que, da mesma forma
que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre,
assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com
Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia”
(Cat. 989).
O Catecismo da Igreja Católica
afirma claramente no parágrafo 1013: “A morte é o fim da
peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de
misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre
segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando
tiver terminado o único curso de nossa vida terrestre, não
voltaremos mais a outras vidas terrestres. Os homens devem morrer uma
só vez (Hb 9, 27). Não existe reencarnação depois da morte”.
Assim, para nós, cristãos, é
incompatível a crença de que precisamos passar por várias vidas em
corpos diferentes para ir nos purificando até chegar a um grau
perfeito de evolução. Ninguém se purifica a si mesmo, ou se salva
por si mesmo; a santificação e a salvação “deriva da iniciativa
de amor de Deus para conosco” (Cat 620), alcançado para nós por
Cristo, que - por causa de nossos pecados - morreu, para nos alcançar
a salvação. É claro que a salvação, sendo um Dom gratuito de
Deus, não nos tira a responsabilidade, é preciso a nossa
colaboração e aceitação do Projeto de Deus. Aí entra nossa
liberdade de acolher a vida como um dom de Deus, e saber que cada
minuto de nossa existência nesta nossa “única vida terrena” é
uma escolha decisiva para a vida eterna.
Que as celebrações destes
dias aumente em nós a gratidão e alegria pelo Dom da vida que Deus
nos deu, e pela Graça da salvação que Cristo nos alcançou.
Tenhamos a certeza de que a morte não tem a palavra final, pois
Jesus afirmou: “Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que
vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no
último dia” (Jo 6, 40).