25 de março de 2018

A Paixão de Cristo segundo o médico cirurgião

Esta meditação abaixo foi retirada dos escritos de Pierre Barbet, um médico cirurgião católico, que durante muitos anos estudou o Santo Sudário confrontando-o com as passagens Bíblicas relativas à paixão de JESUS.

Ele deixou um livro sobre o assunto, chamado:
"A Paixão de Cristo segundo o Cirurgião".


«Eu sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei a fundo anatomia. Posso portanto escrever sem presunção:

1) A Paixão, na verdade começou no dia de Natal, pois que JESUS, em Sua onisciência, soube sempre, sempre viu e quis os sofrimentos que aguardavam Sua Humanidade. O primeiro Sangue derramado por nós foi o da Circuncisão, oito dias após o Natal. Bem se pode imaginar o que será para um homem a previsão exata de seu martírio. 

No entanto, é no Getsêmani que vai começar o holocausto. JESUS, tendo feito os Seus comerem a Sua Carne e beberem o Seu Sangue, os conduz noite adentro para o Jardim das Oliveiras, como de costume.


Deixa-os se acomodarem  perto da entrada, conduz um pouco além seus três íntimos, afasta-Se à distância de uma pedrada, para se preparar orando. Sabe que Sua hora está chegando...



[Então] "começou a ter pavor e a angustiar-Se" (Mc 14,33). Contém esta taça, que deve beber, duas amarguras: a primeira é o ter de assumir os pecados dos homens, ELE, o Justo, para resgatar Seus irmãos e é, sem dúvida, o mais duro: uma prova que não podemos imaginar... "PAI, se queres, afasta de Mim este cálice; no entanto, que não se faça a minha vontade, mas a Tua." (Lc 22,42)

A luta é simplesmente espantosa; um Anjo vem reconfortá-Lo... "E Seu suor tornou-se como coágulos de Sangue caindo pela terra." (Lc 22,44).

Notemos que o único evangelista que relata o fato é um médico. E nosso venerado Lucas... o faz com precisão de um clínico. A hematidrose é um fenômeno raríssimo. Se produz em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.

O terror, susto, a angústia terrível de sentir-Se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado JESUS. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o Sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Notai que essa hemorragia microscópica se produz em toda a pele, que fica portanto atingida e prejudicada em seu conjunto, e de algum modo, dolorida e mais sensível para todos os golpes futuros.

2) Conhecemos a farsa do Processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de JESUS a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de JESUS. Os soldados despojam JESUS e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio. 


A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

As marcas do Sudário de Turim são inúmeras; a maior parte das chicotadas são sobre os ombros, sobre as costas, sobre a região lombar e também sobre o peito.

De acordo com as marcas deixadas no Sudário, os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra.


A cada golpe JESUS reage em um sobressalto de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de Sangue.

3) Depois, vem o escárnio da Coroação. Com longos espinhos, mais duros que os da [planta] Acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (e os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo). No Sudário se percebe que um forte golpe de bastão - dado obliquamente - deixou sobre a Face direita de JESUS um horrível ferimento pisado; o nariz foi deformado por uma fratura da cartilagem.


4) Pilatos, depois de ter mostrado aquele Homem dilacerado à multidão feroz, O entrega para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de JESUS o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos.

A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário. JESUS caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheia de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas. O percurso, felizmente, não é muito longe, cerca de 600 metros. Mas JESUS, fatigado, arrasta um pé após o outro, e frequentemente cai sobre os joelhos. Seus ombros estão cobertos de chagas! Quando ELE cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega, e Lhe esfola o dorso.

5) Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz.

Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar um desmaio, mas ainda não é o fim.

O sangue começa a escorrer. JESUS é deitado de costas, as Suas chagas se incrustam de pó e pedregulhos. Depositam-No sobre o braço horizontal da Cruz. Os algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos. Horrível suplício!

Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de JESUS, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira.

JESUS deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que JESUS deve ter provado: uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a consciência. 

Em JESUS não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o Corpo for suspenso na Cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três horas (seis horas, segundo o Evangelho de São Marcos).

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam JESUS, colocando-O primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam-se à estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da Cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera.

A ponta cortante da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de JESUS inclina-Se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-Se na madeira. Cada vez que o Mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.

Pregam-lhe os pés.

Ao meio-dia JESUS tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semiaberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, Lhe queima, mas ELE não pode engolir. Tem sede.

Um soldado Lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz.

Um estranho fenômeno se produz no corpo de JESUS. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis, em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. 

O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. JESUS respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, Seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois Se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico. JESUS é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, JESUS toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-Se a pequenos golpes, Se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. Por que este esforço? Porque JESUS quer falar: “PAI, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!”

Logo em seguida o Corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ELE na Cruz: cada vez que ELE quer falar, deverá levantar-Se tendo como apoio o prego dos pés. Inimaginável dor!

Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do Seu Corpo, mas ELE não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde. JESUS luta sempre: de vez em quando Se eleva para respirar. A asfixia periódica do infeliz que está destroçado. Uma tortura que dura três horas (seis horas segundo São Marcos).


Todas as Suas dores, a sede, as câimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, Lhe arrancam um lamento: “Meu DEUS, Meu DEUS, porque Me abandonastes?”.

Depois, JESUS grita: “Tudo está consumado!”.

Em seguida num grande brado diz: “PAI, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”.

E morre. Em meu lugar e no seu!»

O crucifixo esculpido pelo médico 'Charles Villandre'
segundo o Sudário

Doutor Pierre Barbet
NOTA: Pierre Barbet (1884-1961), foi um francês católico, médico e cirurgião-chefe do Hospital Saint Joseph em Paris. Depois de largo estudo sobre o Santo Sudário de Turim, e também baseado em sua experiência nos Campos de Batalha da Primeira Guerra Mundial, ele escreveu a conclusão de seu estudo intitulando-o: "Um médico no Calvário", que depois resultou no livro A Paixão de Cristo segundo o cirurgião.

«O doutor Pierre Barbet como cirurgião, impressionou-se com os sofrimentos físicos de Cristo.

Os Evangelistas, narrando a Paixão do Senhor, dizem que Ele foi flagelado, coroado de espinhos e crucificado. Mal podemos imaginar o que contêm estas expressões.

Doutor Barbet estudou vinte anos o assunto. A luz da anatomia revelou-lhe sofrimentos tão tremendos no Senhor que ele não resiste mais fazer a Via-Sacra! Ouvindo a exposição de suas pesquisas, [o Papa Pio XII, na época ainda Cardeal Pacelli] pálido de emoção exclamou: "Não sabíamos disto! Ninguém nô-lo havia dito!"» (texto da contra-capa do livro: A Paixão de Cristo segundo o cirurgião - Edições Loyola).

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