Retiramos do livro-entrevista «DEUS ou Nada» do Cardeal Roberth Sarah e do jornalista Nicolas Diat, um trecho muito interessante, sobre a oração.
Esse livro é muito bom e o indicamos como leitura!
Obs.: O trecho contém cortes e grifos nossos.
Pergunta de Nicolas Diat: Como o senhor define essa vida de oração da qual fala tão frequentemente?
Resposta do Cardeal Sarah: Cada um deve certamente programar e construir, todo dia, sua vida de oração. Como ? Conto-lhes uma pequena história que dá a pensar:
Um dia, um velho professor foi solicitado para dar um curso sobre planificação eficaz de seu tempo a um grupo de uma quinzena de dirigentes de grandes empresas. Esse curso constituía uma das cinco oficinas de seu dia de formação.
O velho professor não tinha, portanto, senão uma hora. De pé, ele olhou um por um, lentamente, e depois lhes disse: "Vamos realizar uma experiência".
De debaixo da mesa, o professor tirou um pote de muitos litros e o colocou delicadamente diante de si. Em seguida, exibiu uma dúzia de pedras grandes como bolas de tênis e as colocou, uma por uma, no pote grande.
Quando o pote encheu até a borda, e ficou impossível acrescentar uma pedra a mais, ele levantou os olhos para seus alunos e perguntou: "Está o pote cheio?". Todos responderam: "Sim". Ele esperou alguns segundos e acrescentou: "Realmente?"
Então, ele se inclinou novamente e tirou de sob a mesa um recipiente cheio de cascalho. Minuciosamente, ele despejou o cascalho sobre as pedras maiores e sacudiu levemente o pote. Os pedaços de cascalhos se infiltraram entre as pedras até o fundo do pote.
O velho professor levantou os olhos e perguntou outra vez: "O pote está cheio?". Então, seus brilhantes alunos começaram a compreender sua artimanha. Um deles respondeu: "Provavelmente não!". "Bem!", respondeu o velho professor. Ele se inclinou ainda e agora tirou areia de sob sua mesa. E a derramou no pote. A areia preencheu os espaços entre as pedras e o cascalho. Outra vez, ele perguntou: "Está o pote cheio?" Agora, sem hesitar e em coro, os alunos responderam: "Não!". "Bem!", respondeu o velho professor.
E como esperavam os alunos, ele pegou um jarro de água que estava sobre a mesa e encheu o pote até a borda. O velho professor disse então: "Qual grande verdade esta experiência nos demonstra?"
Não louco, o mais audacioso dos alunos, pensando no tema do curso, respondeu: "Isto demonstra que ainda quando se crê que nossa agenda está completamente cheia, se se quer com verdade, pode-se acrescentar aí mais encontros e mais coisas para fazer".
"Não, respondeu o velho professor, não é isto! A grande verdade que esta experiência nos demonstra é a seguinte: se as pedras maiores não forem colocadas em primeiro lugar no pote, nunca se poderá fazer que em seguida todas entrem".
Houve um profundo silêncio, cada um percebendo a evidência dessas considerações. O velho professor lhes disse então: "Quais são as pedras maiores nas suas vidas? A saúde, a família, os amigos, os sonhos, a carreira profissional? O que precisa reter é a importância de pôr as pedras maiores em primeiro lugar em suas vidas, caso contrário, corre-se o risco de não se realizar.
Se a prioridade é dada às sucatas - os cascalhos, as areias -, vocês encherão suas vidas de futilidades, de coisas sem importância e sem valor e não terão mais tempo para consagrar a elementos importantes. Então, não se esqueçam de se colocar em questão: quais são as pedras maiores de minha vida?
(...) A oração deve ser realmente esta pedra maior que deve encher o pote de nossa vida. É o tempo em que não se faz outra coisa senão estar com Deus. É o tempo precioso em que tudo se faz, em que tudo se regenera, em que Deus age para nos configurar a Ele.
(...) A oração é, primeiro, obra do Espírito Santo que ora em nós, nos reestrutura interiormente e nos mergulha na intimidade de Deus uno e trino. Eis por que é primordial fazer silêncio e escutar, consentir em se despojar e em se abandonar a Deus que está presente em nós.
A oração não é um momento de magia que consiste em apresentar tal e tal queixa pra melhorar nosso bem-estar. O silêncio interior nos permite escutar a oração do Espírito Santo que se torna a nossa. O Espírito intercede em nosso lugar. Na oração, as nossas palavras não são importantes, mas conseguir se calar para deixar falar o Espírito Santo, escultá-lo gemer e interceder em nosso favor. Se entrarmos no silêncio misterioso do Espírito Santo, certamente seremos ouvidos porque dispomos de um coração que escuta.
Deus não nos responde como o teríamos desejado, tanto mais que pedimos muitas vezes coisas impossíveis... A oração é deixar Deus um pouco livre em nós. É preciso saber esperar no silêncio o abandono e a confiança, com firmeza, e na perseverança, mesmo quando se faz escuro, na nossa noite interior.
A oração, como toda amizade, exige tempo para se consolidar.
(...) Deus nos amou primeiro. Orar é deixar-se amar e amar-se. Orar é olhar para Deus e deixar-se olhar por Ele, é saber verdadeiramente se dispor a olhar para Deus que habita e vive em nós de maneira trinitária. Não é uma imagem; na verdade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem em nós. Habitam em nós na unidade e na comunhão trinitária. Um só Deus em três Pessoas distintas, é o coração de nossa fé batismal. Somos realmente morada de Deus.
(...) A alma é o lugar da oração. Entretanto, nesse santuário reservado a Deus, nessa casa de Deus, a solidão e o silêncio devem reinar. Porque na oração, é essencialmente Deus que fala e nós escutamos atentamente, pondo-nos em busca de sua vontade.
(...) Devemos aprender que o silêncio é o caminho do encontro pessoal e íntimo com a presença silenciosa, mas viva, de Deus em nós.
Deus não está no furacão, no tremor de terra ou no fogo, mas no murmúrio de uma brisa leve. Para rezar com verdade, é preciso cultivar e salvaguardar alguma virgindade do coração, em outras palavras, não devemos viver e crescer na algazarra interior ou exterior, na dispersão e nas distrações mundanas; há prazeres que desunem, laceram, separam e dispersam o centro de nosso ser.
A virgindade espiritual, o silêncio interior e uma necessária solidão são as rochas mais favoráveis à vida com Deus, num face a Face íntimo com Ele.
Desse reencontro, saímos levando na pele de nosso rosto o esplendor brilhante da Face de Deus, como Moisés quando descia da montanha depois de ter falado com o Todo-Poderoso.
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