3 de dezembro de 2016

Um Advento e Natal diferente!

A GRANDE DESCOBERTA (conto natalino)
O dia ainda nem tinha clareado direito e Zezinho já estava em pé.
_ Acorda vó! Vamos!
E Dona Ana, despertando assustada, se deparou com o netinho, de pijama, junto à sua cama, todo descabelado, tentando arrancar a meia.
_ Mas, querido, o que é isso! Ainda são seis horas, é preciso esperar até as oito!
_ Mas vó, se agente chegar atrasado, vamos ficar sem o Papai Noel. Só tem cinco, eu vi na propaganda!
Então, depois de rezar ao Anjo da Guarda, ir ao banheiro, lavar o rosto, tomar o leite com chocolate, escovar os dentes, trocar de roupa, colocar o tênis... Uff! Isso era muita coisa a fazer, para quem estava tão ansioso! Enfim, depois de tudo isso, lá foi Zezinho com sua avó, todo feliz, em direção ao shopping, para a tão esperada compra dos enfeites de Natal.
Assim que chegaram, para aflição do garoto, já havia diversas pessoas esperando a loja abrir. Pela porta de vidro dava para ver lá dentro, tanta coisa bonita aos olhos: Pisca-pisca, árvores de Natal de vários tamanhos, com bolas brilhantes e coloridas, bengalas cheias de doces, sapatos e botas de colocar na lareira, trenó com renas que piscavam seu nariz vermelho, guirlandas musicais, e até pinheiros de verdade! Mas o que mais chamou a atenção de Zezinho foi um boneco do Papai Noel com mais de um metro de altura. Com uma mão, ele segurava um saco de presentes que pendia pelas costas, e com a outra, segurava a barriga. Sua cabeça mexia pra frente e para trás, como se estivesse rindo, e ele ainda falava: “Ho! Ho! Ho! Merry Christmas, children's!”
_ É igual aquele, vó! O que eu quero é igual aquele!
Assim que abriram as portas, houve certo tumulto; eram adultos, crianças, jovens, todos querendo entrar ao mesmo tempo! Zezinho foi correndo em direção ao Papai Noel, e puxando um vendedor pelo braço, perguntou:
_ Quanto custa, moço?
Mas que decepção! O Papai Noel era muito caro!
_ Oh! Zezinho – disse Dona Ana – não tenho condição de comprar, custa todo o salário de um mês da vovó!
Com os olhos cheios de lágrimas, meio cabisbaixo, ele ainda tentou justificar:
_ É porque é importado!
_ Vamos procurar mais! Quem sabe achamos outras coisas interessantes? – consolou a avó. E apontando uma prateleira, disse:
Veja! Tem estes enfeites para a árvore!
_ É... Pode ser. – falou Zezinho, pegando um Papai Noel com 'gorrinho de duende'.
E foram colocando na cestinha, pequenos e baratos enfeites de dependurar na árvore: bolinhas coloridas, bengalas, estrelas, renas de nariz vermelho...
Zezinho tinha um bom coração e gostava muito da sua avó, mas, mesmo assim, tinha ficado bastante triste por não poder levar o boneco do Papai Noel pra casa; afinal, ele tinha escutado seus coleguinhas dizerem: “Que graça tem o Natal sem o Papai Noel? É o mais importante; pois é ele quem traz todos os brinquedos!”
Então, quando já estavam saindo da loja, Zezinho avistou um negócio estranho, entre umas caixas, num cantinho da loja, junto à porta que dava para o depósito. Parecia uma uma gruta ou cabana de madeira.
_ Vó, o que é aquilo?
Um vendedor que estava perto foi logo brigando com o rapaz do depósito:
_ Porque deixaram isso aí?! – E olhando para eles, continuou:
_ Desculpe a bagunça... É um antigo presépio, mas tá quebrado... Aliás, nem se vende mais este tipo de coisa!
_ Presépio! O que é isso, vovó?

Então, enquanto voltavam para casa, Dona Ana ia explicando. O menino nem piscava, com os olhos arregalados, ouvindo a narração da avó. Chegando em casa, Dona Ana, sentou no sofá, colocou as pernas cansadas em um banquinho, e continuou:
_ Quando eu era criança, em vez de ir à loja comprar enfeites, saíamos para o campo, em busca de pedrinhas, areia e palha, para montar o nosso presépio. Todos os anos, montávamos um diferente. Todas as casas tinham seu presépio, mas o nosso era o mais bonito, pois como seu bisavô era carpinteiro, ele mesmo esculpia na madeira os personagens. Tinha os anjos, os pastores, as ovelhinhas, e até uma estrela guia! Mas o que eu mais gostava era um São José puxando o burrinho, com uma Nossa Senhora grávida, sentada nele. Estes eram para o Tempo do Advento.

_ Advento, o que é isso?
_ É o tempo em que esperamos a chegada do Natal! Todos os domingos, ao voltar da Missa, mamãe acendia uma vela na Coroa do Advento.
_ Coroa do Advento! – exclamou o garoto sem entender.
_ É um símbolo do Advento, querido! É um círculo feito com cipó enrolado, coberto com ramos de pinheiro; dentro dele colocamos quatro velas, que representam as quatro semanas do Advento. Em cada domingo do Advento acendíamos uma vela.
_ Ah! É igual à guirlanda que tem na porta de casa?
_ Sim! – sorriu a avó – Mas a nossa era colocada na mesa, dentro de um prato de barro, com as quatro velas. Gostávamos muito dela, porque a cada domingo, quando mamãe acendia uma vela, significava que o Natal estava mais perto!...
_ Que legal!
_ Mas agora, pega um copo de água para a vovó, que já está cansada de tanto falar.
Depois de buscar o copo de água, Zezinho sentou-se a seus pés, dizendo:
_ Conta mais! Conta mais!
E Dona Ana, com os brilhantes olhos verdes, olhando ao longe, ia relembrando:
_ Então, depois da vela acesa, meus irmãos e eu corríamos até o presépio, para colocar o São José e a Nossa Senhora grávida mais perto da gruta. E a cada domingo colocávamos mais perto! Depois, na véspera do Natal, tirávamos estas imagens e colocávamos outras: o São José e a Nossa Senhora ajoelhados.
_ Que seu pai também tinha feito de madeira?
_ Sim! E o mais legal era na manhã do Natal. Pulávamos da cama e íamos correndo até a sala, para ver se o Menino Jesus já estava na manjedoura; porque o papai só o colocava lá depois que agente tinha ido dormir. Agente já sabia, mas, mesmo assim, era muito emocionante encontrar Ele lá!
_ Menino Jesus na manjedoura! Como assim?
_ Uai, meu querido, porque quando o Menino Jesus nasceu, no dia do Natal, Nossa Senhora o colocou na manjedoura, porque eles não tinham conseguido hospedagem em nenhum outro lugar! Manjedoura era o lugar que os bois comiam.
_ Nossa! - disse o garoto espantado. E a avó riu passando a mão nos cabelos de Zezinho.
_ Mas, 'peraí'! O Menino Jesus nasceu no dia do Natal?! – questionou Zezinho surpreso.
_ Claro, meu amor! O Natal é o nascimento do Menino Jesus! Ele nasceu lá na gruta, porque ninguém quis dar hospedagem para José e Maria na cidade de Belém!
_ Que triste!
_ Mas os Anjos vieram com os Pastores para adorar o Menino Jesus. Assim, nós também, como os pastores devemos adorar o Menino Jesus, pois Ele nasceu para nos salvar!
_ Vovó, eu pensava que o Natal é a festa do Papai Noel! – disse o garoto surpreso e envergonhado.
_ De jeito nenhum! O Natal é o aniversário do Menino Jesus! E tem mais, depois de alguns dias, também vieram os sábios Reis para adorar o Menino Jesus. Eles vieram de países bem distantes, trazendo os presentes de ouro, incenso e mirra. É por isso que as pessoas trocam presentes no dia do Natal, para comemorar esta data tão importante.
_ Mas 'peraí', vovó, se é o aniversário do Menino Jesus, ele quem deveria ganhar os presentes!
A avó sorriu e comentou:
_ As pessoas trocam presentes entre si para demonstrar a alegria deste dia, e cada presente, deveria representar Jesus. Que a pessoa está presenteando a outra com o melhor presente: Jesus!
_ Mas e Jesus, Ele não ganha presente?
_ Creio que o melhor presente que ele quer é o nosso coração! Por isso devemos deixar o nosso coração bem limpo, sem nada de ruim nele, então, o Menino Jesus pode vir nascer em nosso coração. Este é o Natal mais bonito!
Zezinho ficou um tempo olhando para sua avó e exclamou:
_ Mas, vó! As pessoas estão sendo enganadas! – exclamou o menino, levantando do chão. E com determinação, foi até a porta e disse:
Meus colegas precisam saber disso! O Natal não é do Papai Noel, com renas e duendes no trenó. Isso nem existe! O Natal é do Menino Jesus!
E correndo pela rua, Zezinho voltou à loja, pediu ao vendedor o presépio velho e, com a ajuda da avó, colou as peças quebradas. Depois, levou para a escola e mostrou aos coleguinhas, repetindo para eles a história que sua vó lhe tinha contado: a verdadeira história do Natal.


E desde aquele dia, quando chegava o Tempo do Advento, as crianças não se interessavam tanto mais em ir às lojas, comprar enfeites brilhantes e caros, mas queriam ir ao campo, pegar pedrinhas, areia e palhas, para montar em casa o seu próprio Presépio!

Um comentário:

  1. Parabens Rachel! Que linda estória.
    Viva Jesus! Viva a família de Nazaré!

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