4 de maio de 2019

Quem você quer ter por Mãe?

A devoção a Nossa Senhora, não é alguma coisa dispensável na ordem presente da Providência e de nossa Redenção. A encarnação do Verbo e nossa Salvação constituem mistérios altíssimos decretados por Deus, segundo o conselho imperscrutável de sua Sabedoria. A nós cabe, pia e sobriamente, estudá-los em sua divina realidade, tal como Deus os quis realizar. Ora, as luzes da Revelação nos apontam a Economia de nossa Redenção como uma divina resposta de Deus ao desafio do demônio que nos quis perder. E coo nossa ruína foi causada por um homem e uma mulher, Deus predestinou um Homem e uma Mulher para a nossa restauração.

Na tentação e na queda, há um anjo de trevas, uma mulher que acredita na sedução, um homem que desobedece a Deus e perde o gênero humano. Na Redenção, há um Anjo de luz na Anunciação, uma Mulher que crê na palavra do Mensageiro celeste e um Homem que obedece até a morte de Cruz e salva a todos os homens.

Se, pois, a perda do gênero humano, que se devia consumar em Adão, começou em Eva, também a Redenção que Jesus operaria, teve início em Nossa Senhora. Aqui, teve Maria para nosso bem, o mesmo lugar que Eva para nosso mal. Mas Ela foi melhor Mãe nossa, pois que nos dispôs para a Vida, ao passo que nossa infeliz primeira mãe, nos gerou para a morte. Assim, Maria foi colocada pelo Mesmo Deus como “uma peça necessária no esquema divino da Encarnação e da Redenção”.

Mãe de Jesus, Ela é também Mãe nossa. Jesus Cristo é a cabeça do Corpo Místico. Mas, se Jesus, Cabeça dos homens, nela nasceu, os predestinados, membros dessa Cabeça, devem também nascer nela, por consequência necessária. Uma mesma mãe não gera a Cabeça sem os membros, os membros sem a cabeça, pois do contrário seria um monstro da natureza. Assim também, na ordem da graça, a Cabeça e os membros nascem de uma mesma Mãe. A Maternidade Divina de Maria, portanto, com relação a Jesus, tem como resultado a sua Maternidade na ordem espiritual com relação a nós.

Assim como Eva, porém colaborou livre e conscientemente em nossa perda, assim Maria livre e voluntariamente aceitou ser nossa restauradora, dando-nos Jesus, e recebendo-nos, por filhos, sobretudo mediante as suas dores e lágrimas. Pois, se Eva, por um gozo ilícito, foi mãe de filhos pecadores, Maria, por seus sofrimentos, se constituiu Mãe de filhos justificados.

Ainda. Impossível a transmissão do pecado original sem o intermédio de nossa desventurada mãe Eva. Assim também, impossível a aplicação dos méritos de Jesus Redentor sem a mediação de nossa bem-aventurada Mãe Maria.


Esta é a vontade de Deus. Foi por Maria que Jesus veio a nós. E é por nossa Senhora que Ele quer que voltemos a Ele.

No Calvário, Jesus ratificou a Maternidade Espiritual de Maria, dando-a por nossa Mãe, na pessoa e no coração de João Evangelista, que era ali, a Igreja de Cristo.

Nossa vida espiritual, oriunda de Jesus Redentor, mediante Maria nossa Mãe Bendita, encontra dificuldades e tropeços, sobretudo movidos pelo inimigo, homicida desde o princípio. Não tememos, porém. Ainda aqui, Maria se opõe vitoriosamente a Eva. Ainda aqui Deus vence satã na mesma ordem que ele nos perdera: Eva foi amiga da serpente, sócia da tentação ao primeiro chefe da humanidade. Maria foi constituída por Deus a inimiga do tentador, de uma inimizade sem quartel e sem tréguas, que a iria tornar funestíssima ao demônio e sua nefanda progênie: Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a dela (Gen 3,15). E assim, sócia de Jesus Redentor, para nossa reparação e nosso retorno a Deus.

Por isso, satanás quer eliminar a devoção de Maria dos corações fieis, sob mil pretextos especiosos, que não resistem, entretanto, à clara evidência do lugar necessário de Maria em nossa vida espiritual. “O culto a Nossa Senhora é nota da verdadeira religião cristã. Onde não há esse culto, aí, também não há a genuína religião de Jesus Cristo: esta supõe uma ordem de estreita união entre a Mulher bendita e a sua divina Progênie, porquanto esta foi a disposição da Providência de Deus para restaurar nossa ruína”.

(Do livro: Consagração a Nossa Senhora – Dom Antônio Maria Alves de Siqueira)

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